A Sífilis, conhecida também como Lues ou Cancro Duro é uma Doença Sexualmente Transmissível conhecida há muitos séculos. Existem evidências arqueológicas que mostram sua presença nas ruínas em Pompéia, em dentes de crianças, filhas de mães com sífilis.
Apesar de ser conhecida há tanto tempo, o seu diagnóstico efetivo surgiu apenas no início de 1900, através do teste de Wassermann, um teste que apresentava muitos resultados falsos positivos (diz que o paciente está doente mesmo quando não está). O tratamento definitivo surgiu com o aparecimento da Penicilina, durante a Segunda Guerra Mundial.
A doença é causada por uma bactéria, chamada Treponema pallidum. Pode ser transmitida através de relação sexual (oral, vaginal ou anal), através da transfusão sanguínea (atualmente não ocorre transmissão desta maneira devido ao controle dos Bancos de Sangue) ou através de transmissão vertical (durante a gravidez).
Existem vários estágios da doença: sífilis primária, secundária, terciária; precoce e latente; congênita. Em alguns desses estágios a doença pode cursar com poucas manifestações clínicas ou assintomática, mas se não for tratada adequadamente o paciente cursará com sífilis terciária ou seja, o treponema atingirá alguns órgãos mais nobres como o Sistema Nervoso Central ou o Sistema Cardiovascular, podendo assim ser fatal.
Assim é primordial que o diagnóstico sorológico realizado através de exames treponêmicos (FTA-abs) e não-treponêmicos (VDRL) seja feito e que o tratamento seja realizado de maneira adequada. Além disso, o paciente deverá ser acompanhado durante o período necessário, mantendo sempre o seguimento sorológico. Esse seguimento deverá ser realizado por um período enquanto a titulação do exame não-treponêmico registre valores ínfimos. Caso ocorra aumento das titulações, é necessário novo tratamento.
Durante o Pré-natal, o médico deverá solicitar a sorologia para sífilis no início (1otrimestre) e no final da gravidez (3otrimestre). Caso algum desses exames venha positivo, opta-se por tratar o casal para sífilis. Devemos lembrar que a Sífilis Congênita é responsável por mais de 40% dos óbitos fetais, sendo a responsável por infectar até 70% das crianças que nascem de mães com este diagnóstico; nestes casos, essas crianças tem risco de 10% de óbito em um ano.
Durante a gravidez, quando há o diagnóstico de sífilis gestacional, trata-se o casal como sendo sífilis tardia, com o objetivo de evitar a infecção fetal. Além disso, orienta-se a necessidade do uso de preservativo durante todas as relações até o final da gestação, para garantir que não exista nova contaminação, evitando-se outro tratamento. Sempre que houver dúvida ou possibilidade de falha terapêutica está indicado novo tratamento ao casal.
Na hora do parto, repete-se a sorologia de sífilis, e caso esta seja positiva, determina-se o valor da titulação da mesma. Se for necessário a mãe receberá novo tratamento e poderá receber alta no período normal.
O bebê poderá receber o aleitamento materno normalmente, sem nenhuma contraindicação (exceto se houver outras doenças infecciosas associadas como o HIV positivo). Entretanto um fato ocorrerá: ele permanecerá internado durante um período (em média dez dias), recebendo antibiótico endovenoso e realizando vários exames de sangue e de imagem para afastar qualquer tipo de complicação possível relacionada à sífilis congênita.
Tudo isso é uma pena: uma doença conhecida há muito tempo, com diagnóstico fácil de ser realizado durante o pré-natal, com diagnóstico de fácil acesso a toda população, com tratamento de fácil acesso a toda população, e que ainda hoje mantém um recém-nascido internado, afastado dos pais por dez dias, privando do contato diário, do aleitamento contínuo, porque alguém não fez a sua parte, porque alguém não fez o exame, porque alguém não usou preservativo ou porque alguém não tomou antibiótico direito.
Então, vamos fazer nossa parte???
Dra. Sandra de Oliveira Guaré Ginecologista e Obstetra