Agora é lei no estado de São Paulo, todas as salas de parto de hospitais, clínicas e unidades integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS) devem obrigatoriamente ter a presença de profissional médico ou de enfermagem habilitado em reanimação neonatal. A iniciativa visa assegurar o direito de assistência à mulher e ao recém-nascido no instante do parto e diminuir a mortalidade neonatal causada por asfixia. “Um em cada dez bebês precisa de ventilação ao nascer”, revela a dra. Maria Fernanda de Almeida, professora associada da disciplina de pediatria neonatal da Escola Paulista de Medicina (EPM), neonatologista do Hospital São Paulo (HSP) e coordenadora do Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o treinamento de reanimação neonatal pode salvar 300 mil bebês por ano no mundo”, aponta a neonatologista.
Pioneiro, o Hospital São Paulo é o primeiro hospital do estado a ter todos os profissionais treinados como o decreto propõe. Para a dra. Ruth Guinsburg, professora titular da disciplina de pediatria neonatal da EPM, coordenadora da UTI Neonatal do hospital e coordenadora do Programa de Reanimação Neonatal da SBP, a expertise da EPM, que realiza o curso básico de reanimação neonatal desde meados da década de 1990, foi primordial para que o programa fosse expandido para outros profissionais de neonatologia e obstetrícia em todo o país. “O treinamento no Brasil começou na EPM e é realizado anualmente para residentes de pediatria, de terapia pediátrica e obstetrícia. Em 2012, o treinamento reuniu também todos os profissionais não médicos que atuam na sala de parto, como os profissionais de enfermagem e fisioterapia, e contou com a participação de 26 neonatologistas da UNIFESP que são instrutores do Programa de Reanimação Neonatal da SBP.”
O programa de treinamento elaborado pela SBP é padrão para todo o Brasil e tem carga horária de oito horas – duas teóricas e seis práticas com manequins. “Todo o foco desse curso de reanimação está na assistência na sala de parto, na atuação no primeiro minuto de vida do bebê, que é chamado de golden minute. Nesse primeiro minuto, devem ser feitas a avaliação e a ventilação, caso seja necessária. Essa atuação, quando feita de forma adequada, aumenta consideravelmente as chances de sobrevida”, relata a dra. Maria Fernanda.
Cerca de 200 profissionais são treinados por ano no hospital. “O médico só entra na sala de parto após o treinamento”, reforça a dra. Ruth, que reconhece a importância do treinamento também para a equipe de enfermagem. “É fundamental treinar também toda a equipe de enfermagem para melhorar a qualidade da assistência e salvar mais bebês.”
A enfermeira Cleonice Bento Perazolo faz parte da equipe multiprofissional beneficiada pelo treinamento. Como coordenadora da obstetrícia e do centro obstétrico do Hospital São Paulo, ela atesta que já é possível perceber resultados em toda a equipe. “Os frutos foram notáveis, os profissionais estão mais seguros sobre como contribuir e participar ativamente na reanimação neonatal. Isso diminui os eventos adversos; além disso, há a conscientização sobre a importância de manter a sala de parto sempre completa, com materiais organizados e profissionais capacitados. Essas são condutas que fazem toda a diferença.”