Quando o governo Getúlio Vargas instituiu em 1943 o decreto lei 5.540 que estabelece a comemoração do Dia do Índio, pouco era feito em prol dos povos indígenas. Direitos básicos como saúde e educação praticamente não eram garantidos.
Hoje, podemos dizer que esse cenário caminha para uma grande transformação, encontramos cada vez mais jovens que deixaram temporariamente suas aldeias, para trabalhar e estudar, retornando como um profissional qualificado capaz de atuar junto à sua comunidade.
O ensino superior é uma das grandes conquistas dessa nova geração que enfrenta obstáculos como a adaptação a um novo idioma, a alimentação industrializada e a solidão, motivados pelo desejo maior de transformar a realidade de seu povo. E não é difícil encontra-los em cargos de gestão, atenção à saúde e educação, quase sempre atuando junto a suas próprias comunidades. A seguir o perfil de três jovens que apresentam suas histórias de vida e nos mostram o retrato do indígena moderno, que olha para frente sem negar seu passado.
Awae
Awae Trumai Wara, de 30 anos deixou sua aldeia no Xingu para atuar como comprador júnior na SPDM/Saúde Indígena em São Paulo. “É difícil sair da aldeia, morar sozinho em uma cidade grande, enfrentar as dificuldades de adaptação a uma nova cultura. Mas temos que encarar a realidade, todo esse sacrifício é para o bem de toda nossa comunidade”, conta.
Mesmo distante de sua terra natal, Awae mantem o foco e alimenta o sonho de cursar medicina e suprir uma das maiores carências de seu povo, o acesso a saúde. “Estou terminando o terceiro ano do ensino médio, pretendo cursar medicina e atuar na saúde indígena, quero levar esse conhecimento para meu povo no Xingu, que precisa de médicos e enfermeiros”.
Claudemir
Claudemir Vaz, de 29 anos é formado em terapia ocupacional atua na SPDM/Saúde Indígena como preposto do interior sul, no Rio Grande do Sul “Escolhi esse curso porque seria útil para meu povo, uma vez que o índice de uso de drogas vem aumentando gradativamente”, conta. Um dos primeiros a deixar seu povo para estudar, Claudemir conta que hoje a realidade é outra. “Fui um dos primeiros a sair da aldeia para estudar. Hoje vejo salas lotadas, uma evolução muito grande.”
Quando questionado como seria possível conviver com a cultura do homem branco sem perder a cultura de seu povo, Claudemir mostra sabedoria ao afirmar. “Utilizamos a escrita e a cultura não indígena para fortalecer a nossa cultura”, e complementa. “Não vivemos no passado, o passado que vive em nós.”
Pablo
Pablo Kamaiurá, de 40 anos. É auxiliar de enfermagem e ocupa há um mês o cargo de responsável pela divisão de atenção à saúde indígena junto a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xingu. “É um desafio para mim, mas uma grande conquista para os povos indígenas de todo Brasil. A SESAI é um sonho nosso, por isso buscamos a inserção de indígenas em diversos setores, ninguém melhor do que o próprio indígena para conhecer as necessidades de seu povo.”
Pablo aponta que a convivência com o homem branco pode e deve ser uma experiência agregadora para seu povo. “O contato com o homem branco é inevitável, todas as culturas são dinâmicas e se modificam com o tempo, mas aprendemos a utilizar tecnologia para garantir que os rituais do nosso povo não se percam”.