Recentemente, foi realizada no Hospital São Paulo/EPM complexa cirurgia para separação de gêmeos xifópagos, do sexo feminino, que nasceram unidos pelo tórax e pelo abdome (toraco-onfalópagos). A peculiaridade do caso é que, apesar de os bebês não compartilharem órgãos, um deles era portador de uma cardiopatia congênita grave, que exigia correção urgente e colocava em risco a vida do outro. Após uma série de exames de imagem, optou-se pela separação cirúrgica precoce dos bebês, com a participação de equipe multiprofissional, composta de pediatras, anestesistas, cirurgião cardíaco, cirurgião torácico, cirurgião plástico, radiologista, transplantadores e enfermeiros, entre outros.
“A maior dificuldade nesse tipo de procedimento é a logística, pois exige a atuação sincronizada de várias equipes em uma cirurgia de grande porte, em dois recém-nascidos unidos e minúsculos – com 5 quilos de peso total, instalados na mesma mesa cirúrgica”, explica o dr. Alcides Salzedas, cirurgião pediátrico que coordenou o procedimento. “Finalizado o processo de separação, que durou cerca de 8 horas, o bebê cardiopata foi submetido a um delicado procedimento cirúrgico para correção do problema congênito. Infelizmente, devido ao seu estado debilitado e à duração do procedimento, ele não resistiu.”
O bebê que sobreviveu passa bem. Aos cinco meses de vida, tem desenvolvimento normal, como qualquer outro bebê da sua idade. Nos próximos meses, deverá ser submetido a uma cirurgia plástica para corrigir a falha abdominal, inicialmente protegida por uma tela de material biológico incorporável. “Fora essa sequela, que pode ser corrigida cirurgicamente, os prognósticos são de uma vida normal, já que seus órgãos vitais estão íntegros”, antecipa o dr. Salzedas.
Os gêmeos conjugados ou xifópagos são geneticamente idênticos e, por isso, sempre do mesmo sexo. Eles se formam a partir do mesmo óvulo fertilizado e compartilham a mesma placenta. A anomalia acontece quando gêmeos monozigóticos se fundem durante a formação. O desenvolvimento do embrião gera gêmeos idênticos – normalmente durante as primeiras semanas após a concepção – que passam a se fundir e a compartilhar partes variáveis do seu corpo. Os discos embrionários parcialmente fundidos desenvolvem fetos siameses ou conjugados. A incidência desse tipo de gemelaridade é rara, algo em torno de um em 100 mil nascimentos; metade deles são natimortos e a sobrevida é de cerca de 25%. “O grau de sobrevivência depende do tipo de ligação e dos órgãos que eles dividem”, finaliza o dr. Salzedas.