Com o objetivo de buscar uma melhoria para os setores de onco-hematologia, transplante de medula óssea, córnea, pâncreas, rim e de fígado, o Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini (HTEJZ), unidade da Secretaria de Estado da Saúde gerenciada em parceria com a SPDM – Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, estabeleceu como meta primordial chegar a abril de 2020 com pouquíssimos ou nenhum caso de infecção hospitalar. “Estamos encerrando o ciclo de 2019/2020 com apenas 1 caso de infecção no setor de onco-hematologia, que ocorreu faltando dois dias para o fechamento de um ciclo de 365 dias sem nenhum caso, graças ao empenho e a atuação das equipes assistenciais, principalmente de enfermagem”, afirma o diretor de enfermagem da unidade, Deyvid Fernando Mattei da Silva.
Há pelo menos 2 anos e meio o projeto vem sendo implementado na instituição e possui avaliação muito satisfatória. Todos os demais setores do Hospital de Transplantes, como consequência do projeto, tiveram seus índices reduzidos com resultados muito significativos, como por exemplo, a UTI que ficou 712 dias sem nenhum caso de infecção associada à ventilação mecânica.
O projeto representa um grande desafio, dado o perfil dos pacientes atendidos nesta unidade. Tanto os pacientes transplantados como os pacientes onco-hematológicos possuem uma deficiência no sistema de defesa, ou seja, são imunocomprometidos, devido às drogas que são usadas para o controle da rejeição dos enxertos ou mesmo pelas doenças de base, o que os torna muito mais suscetíveis às infecções que a população normal.
De acordo com Deyvid, o projeto foi elaborado por iniciativa do diretor técnico da unidade, o médico Otávio Monteiro Becker Jr, baseado nos resultados de pesquisas realizadas em hospitais da Europa e EUA, que mostram uma relação entre o número de intercorrências e a composição do corpo de enfermagem. Isto é, quanto maior a proporção de enfermeiros em relação a técnicos de enfermagem, menor o número de intercorrências adversas como taxas de infecção e, portanto, de morbidade durante o período de internação.
Para acompanhar o plano de ação e utilizar de bases não só técnicas como econômicas, vários indicadores foram utilizados para avaliar os resultados do projeto. Segundo Becker, os indicadores de infecção e suas complicações, diminuíram muito após a implementação do projeto. Consequentemente, a substituição progressiva de técnicos por enfermeiros, possibilitou a conquista do índice 0 por vários meses seguidos para casos de infecção hospitalar e a baixa da mortalidade por infecção generalizada na enfermaria para 40%, para os atuais 22% ao longo desses dois anos.
“Como o enfermeiro é o principal responsável pela abertura dos protocolos de sepse, há maior agilidade no início do tratamento, o que impacta nos resultados. Além de ser o gerente por excelência das boas práticas de manuseio de pacientes, contribui para a queda das taxas de infecção hospitalar. Toda a ação acarretou em diminuição significativa dos custos com fungicidas, antibióticos e permanências em UTI, compensando em muito o aumento com a folha de pagamento da enfermagem”, finaliza.
Para a implantação do projeto foram inicialmente contratados 20 enfermeiros que receberam treinamentos teóricos e práticos mais específicos para os pacientes onco-hematológicos, suas comorbidades e complicações. Partes importantes do projeto incluem cursos em Controle de Infecção Hospitalar e Pesquisa Clínica, com duração de 40 horas cada, com certificação de conclusão a todos os enfermeiros participantes.
O projeto tem como foco aumentar a qualificação do corpo de enfermagem por meio da capacitação e composição predominante de enfermeiros. Nessa nova dinâmica de atuação, a prestação da assistência ao paciente passa a ser em sua maioria, realizada diretamente pelo enfermeiro, como nos grandes serviços de excelência dos EUA e Europa.