O Brasil se destaca no contexto mundial quando o assunto é doação de órgãos, justamente por ter o maior sistema público de transplantes do mundo. Porém, há ainda muito espaço para melhorias na área.
Para Carlos Baía, hepatologista e coordenador dos transplantes de fígado do Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini, unidade da Secretaria de Estado da Saúde gerenciada em parceria com a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), o Brasil precisa intensificar a divulgação tanto científica quanto social no que diz respeito à captação e doação de órgãos.
“Observa-se que há ainda pouco conhecimento dos familiares acerca deste assunto. A não compreensão do diagnóstico da morte encefálica que é apontada hoje como uma das principais causas da recusa, onde os envolvidos não conseguem entender que um corpo que possui batimentos cardíacos, que respira (com a ajuda dos equipamentos) e que às vezes ainda possui temperatura elevada possa estar morto”, explica.
Segundo uma pesquisa realizada pela Central de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, os principais motivos de recusa de doação de órgãos no Estado são: não compreensão do diagnóstico de morte encefálica (21%), religiosidade (19%), falta de competência técnica da equipe (19%), tempo longo do processo (10%), falecido não era doador (9%), medo da mutilação (5,2%), enterrado como veio ao mundo (3,4%), qualidade do atendimento (3,4%), decisão de um único membro da família (3,4%), experiência negativa em outro processo de doação (1,7%) e, por fim, transferência do corpo (1,7%).
Como ser um doador
Qualquer pessoa pode doar órgãos. Não é necessário realizar nenhum registro em entidades, por exemplo. Basta notificar seus familiares sobre sua intenção de ser doador. Dentre os órgãos e tecidos que podem ser doados estão coração, pulmões, fígado, rins, pâncreas, córneas, valvas cardíacas, pele, cartilagem, medula óssea e ossos. “Nunca é demais frisar para quem deseja doar órgãos que avise sua família sobre isso. Afinal, a doação é autorizada apenas na entrevista familiar”, afirma José Medina Pestana, Coordenador da Organização de Procura de Órgãos (OPO) do Hospital São Paulo/Escola Paulista de Medicina (HSP/EPM). No Brasil, a legislação determina que a retirada de órgãos e tecidos de doadores só pode ser ocorrer após o diagnóstico de morte cerebral, constatado por dois médicos e com a autorização de familiares.
Desde 2013, a OPO do Hospital São Paulo é o serviço que mais capta doadores de órgãos no estado de São Paulo. Todo o trabalho realizado pela equipe da Organização é feito de forma humanizada, apoiando os familiares e acompanhando todo o processo de doação de órgãos e tecidos. A OPO do Hospital São Paulo atua em um grupo de hospitais de sua área de abrangência, realizando atividades como identificação de potenciais doadores de órgãos (pacientes com morte encefálica) e de pessoas que tiveram parada cardiorrespiratória.
“Nós intensificamos as visitas eletivas nos hospitais, visitando todos os dias, em média, cinco unidades em nossa área de abrangência, levando informações sobre o processo de doação de órgãos aos trabalhadores da área de saúde, como Médicos, Enfermeiros e Assistentes Sociais. Com isso, aumentamos o vínculo com esses profissionais, o que aumenta a chance de a Central de Transplantes ser notificada toda vez que existir um potencial doador de órgãos”, explica Vanessa Ayres Carneiro, Supervisora da OPO.