Dois meses. Esse é o tempo médio de espera por uma córnea no Cadastro de Transplantes do Estado de São Paulo. Há menos de uma década atrás, um paciente passava mais de dois anos na fila do transplante.
“Dois meses é uma situação confortável. É o tempo ideal para o candidato à cirurgia realizar os exames e se preparar”, afirma o oftalmologista Élcio Hideo Sato, Diretor Médico Adjunto do Banco de Olhos do Hospital São Paulo – BOHSP.
O BOHSP, junto com outros dois bancos (localizados em Sorocaba e na Santa Casa de São Paulo), é responsável por captar, avaliar, processar, preservar e distribuir córneas para transplantes na cidade de São Paulo.
Como funciona a doação?
Inicialmente, a doação de olhos era realizada no esquema de captação passiva, ou seja, a coleta só era feita quando um parente do doador entrava em contato com Banco de Olhos do Hospital São Paulo. Para se ter uma ideia, eram recebidas doações até dos Estados Unidos.
Agora, na região que compreende o BHOSP, há um agente de captação ativa em diversos hospitais, como o Municipal Pimentas Bonsucesso, em Guarulhos, Hospital Geral de Pirajussara, em Taboão da Serra, no Municipal Vereador José Storopolli, na Vila Maria e em breve no Hospital Geral de Guarulhos, todas unidades gerenciadas pela Associação Paulista pelo Desenvolvimento da Medicina (SPDM), além do Hospital Artur Ribeiro de Saboya, no Jabaquara.
Esses agentes ficam de prontidão e abordam a família do possível doador, com todo o respeito que a ocasião merece. Como resultado, mensalmente 60 a 70 córneas são utilizadas para transplante.
“O número poderia ser ainda maior, porque apenas metade das famílias se sensibiliza e aceita a doação, uma realidade diferente do que mostram pesquisas, que apontam que 80% da população são favoráveis à doação. Esses dados apontam uma questão fundamental: a importância de se comunicar à família a sua intenção de ser doador,pois é na entrevista familiar que é autorizada a doação”, explica Élcio.
Uma das preocupações dos familiares do doador é em relação à aparência de seu ente após a captação dos olhos, mas o oftalmologista garante: “fica totalmente reconstituída”.
Transplante
Após a captação, o Banco de Olhos faz uma triagem e a Central de Transplantes do Estado de São Paulo dá andamento ao processo de forma transparente, com todas as informações disponibilizadas na internet para quem aguarda na lista.
A principal indicação para transplante de córnea é a Ceratocone, uma doença genética que deforma a córnea e causa cegueira gradativa, afetando cerca de 5% da população brasileira, ou nove milhões de pessoas todos os anos. Para a maior parte das pessoas, o uso de lentes corretivas já é suficiente, mas em alguns casos, só com o transplante o problema é resolvido.
Queimaduras, infecções e herpes ocular são outras indicações para o transplante de córnea. Cada doador possibilita duas cirurgias, sem falar da parte branca do olho, a esclera, que também é utilizada em intervenções como glaucoma ou plástica ocular, por exemplo.
A recuperação pós-operatória é bem tranquila, não requer nem o uso de imunossupressores, apenas a aplicação temporária de colírio. Casos de rejeição são raros, uma vez que a córnea é avascular, ou seja, não tem vasos sanguíneos. “O primeiro transplante feito com sucesso em humanos, ocorreu há mais de 100 anos e desde então, só evoluiu. A córnea pode ser comparada ao vidro transparente do relógio, seu transplante não muda nem a cor do olho”, afirma o oftalmologista.
Origem
Fundado em 1991, o Banco de Olhos do Hospital São Paulo é ainda uma instituição de ensino, um centro multiplicador de conhecimento. No interior de um hospital universitário, além de seu viés assistencial, “o BOHSP é também um local de formação de profissionais e residentes de oftalmologia; um local fértil para realização de pesquisas e trabalhos científicos com uma média de publicação de 10 trabalhos por ano”, explica Élcio Sato.