Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 6,7% de brasileiros possuem alguma deficiência. No Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência (21 de setembro), destacamos o trabalho realizado pelo Centro de Reabilitação Lucy Montoro (CRLM) de São José dos Campos, unidade do Governo do Estado gerida em parceria com a SPDM – Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina.
O atendimento na unidade destina-se, principalmente, aos pacientes com grandes incapacidades, como amputação, lesão encefálica, lesão medular, doenças desmielinizantes e patologias infantis incapacitantes, como paralisia cerebral. O CRLM atende pacientes de 39 municípios da região do Vale do Paraíba e os encaminhamentos são feitos através das Secretarias de Saúde.
Um dos pacientes atendidos no local é o Douglas Rodolfo Aparecido Costa, de 27 anos, morador do município de Santa Branca. Douglas trabalhava como instalador de piso laminado, até sofrer um acidente em 2015. Ele caiu da escada de uma altura de cinco metros e teve uma lesão medular nas vértebras C5 e C6, nas quais hoje usa uma prótese de titânio.
Douglas chegou ao Lucy Montoro de São José dos Campos por indicação de fisioterapeutas e logo iniciou o tratamento na rede. A evolução foi rápida e surpreendente. “Quando cheguei estava na cadeira de rodas e em menos de seis meses passei para as muletas”, diz o paciente.
Até o que Douglas pensou que a deficiência o impediria de voltar a fazer, acabou sendo bem diferente. “Achava que muitas coisas seriam impossíveis de voltar a fazer, como dirigir e até mesmo andar a cavalo novamente. Mas hoje nenhuma dessas atividades é um problema”, afirma. Atualmente ele pratica provas de três tambores com cavalos.
O jovem diz que lida bem com a deficiência, mas já se sentiu rejeitado diversas vezes. Apesar de tudo, não se abala e vê a deficiência como algo que prende por dentro e não por fora. “Para mim a deficiência está no abandono dos nossos sonhos, da vontade de viver, do descaso ao próximo. Ainda que incapacitados para andar, todos somos livres para sonhar, amar, ajudar o próximo com uma palavra de afeto ou um sorriso”, completa.
Além de ser fundamental para a reabilitação de centenas de pacientes, o CRLM também tem colaboradores com deficiência em seu quadro de funcionários, desenvolvendo um importante trabalho de inclusão.
Otávio Dornelas Cerqueira é colaborador da unidade, tem 35 anos e mora com os pais em Jacareí. Fã de música, toca gaita, violão, guitarra havaiana e escaleta, além de gostar de festa, de estar com os amigos e de ir ao cinema.
O rapaz é mais um que não nasceu com a deficiência. Aos 12 anos, ele começou a sentir fraqueza muscular e perda de equilíbrio. Desde então, realiza acompanhamento médico.
Otávio expressa com alegria seu prazer em trabalhar na instituição. “Tenho a chance de conhecer outras pessoas com deficiência, o que me motiva e me ensina a melhorar a cada dia minha forma de viver”, diz. Ele também passou pelo programa de reabilitação da unidade e, inclusive, recebeu uma nova cadeira de rodas.
Com a evolução do quadro e a perda de movimento nas pernas, Otávio tinha medo de perder completamente a independência, o que não foi bem o que aconteceu. “Percebi que eu conseguia me locomover com a cadeira de rodas e continuar com independência. Hoje preciso apenas de pequenas ajudas”, afirma.
A acessibilidade é um desafio para as pessoas com deficiência. Otávio relata que já passou por situações desagradáveis e desrespeitosas. Obstáculos físicos, calçadas em péssimas condições e até mesmo a falta de respeito de outras pessoas podem ser um grande empecilho para quem tem mobilidade reduzida. “No início da deficiência ainda conseguia andar, porém com muita dificuldade. Um dia fui a uma ótica e ao sair do carro com dificuldade, a segurança do local achou que eu estava fingindo apenas para colocar o carro naquela vaga e não me ajudou, além de ficar rindo da situação”.
Em outra situação, Otávio conta que, na igreja, uma pessoa obstruiu com o carro a passagem da rampa para cadeirantes e mesmo vendo sua necessidade de passar por ali, não retirou o carro. “Foi necessário solicitar ajuda para que eu conseguisse entrar na igreja, quando eu poderia fazer aquilo sozinho”, diz.
O caminho é longo e a luta é constante, mas Otávio não se deixa abater e diz que a deficiência não pode ser uma limitação, é preciso aprender a conviver com ela.
O atendimento terapêutico no CRLM de São José dos Campos é desenvolvido por uma equipe multidisciplinar especializada em reabilitação e são oferecidas as especialidades de médico fisiatra, fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, serviço social, enfermagem, nutrição, fonoaudiologia e condicionamento físico. São realizados mais de 3.300 atendimentos multidisciplinares por mês.