Veio de uma sátira do poeta e retórico romano Juvenal (55-127 d.C.) a máxima filosófica Orandum est ut sit mens sana in corpore sano. Em tradução exata, Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são é um lembrete às pessoas para deixarem de lado orações tolas, pois o mais importante a ser almejado é a saúde física e espiritual.
Hoje, o conceito de saúde foge do simplismo de ausência de doença, ideia que imperou durante muito tempo, mas se tornou insatisfatória. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “o completo estado de bem-estar físico, mental e social”, um conceito moderno que relaciona qualidade de vida e saúde, mas que, apesar de ser já um avanço do conceito anterior, ainda representa algo abstrato e dependente de diversas variáveis para ser atingido.
João Maurício Peres Mainenti, pediatra e gerente médico da Microrregião V. Maria/V. Guilherme, unidade gerenciada pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) pondera que “a saúde de um indivíduo pode ser determinada pela própria biologia humana, pelo ambiente físico, social e econômico a que está exposto, e pelo seu estilo de vida, isso é, pelos hábitos de alimentação e outros comportamentos que podem ser benéficos ou prejudiciais”.
De modo geral, segundo o pediatra, podemos dizer que existem quatro variáveis gerais de saúde: a biologia humana, o ambiente, o estilo de vida e o acesso ao atendimento médico. “Assim, a saúde é mantida e melhorada, não só através da promoção e aplicação da ‘ciência da saúde’, mas também por meio dos esforços e opções de vida inteligentes do indivíduo e da sociedade”, explica João Maurício.
Com a saúde mental ocorre algo parecido. A definição extrapola os limites físicos e se utiliza de todo o contexto em que o sujeito está envolvido. Pode-se dizer até que não há uma definição oficialmente aceita para a saúde da mente. “Ela se vincula às culturas, sociedades e subjetividades. Se não é dada pela ausência de transtorno mental, poderia ser vista como um estado de equilíbrio emocional diante das vivências internas e as exigências do meio, com manutenção do julgamento crítico de realidade e a busca de uma plenitude de vida”, pondera Guilherme Gregório, psiquiatra, supervisor médico em Saúde Mental do Programa de Atenção Integral à Saúde (PAIS) da SPDM.
Enquanto a OMS diz que há saúde mental quando o indivíduo realiza suas capacidades, é produtivo e contribui para a sociedade, lidando com o “stress normal da vida”, Guilherme questiona até que ponto a sociedade moderna lida com o stress e em que momento ele se torna angústia: “Já não sabemos se temos pressa porque é assim que se vive, ou vivemos assim porque não conseguimos nos perguntar o que queremos, o que podemos, o que desejamos, o que é nosso e o que é do outro”, avalia o psiquiatra. Para ele, essa angústia própria das metrópoles nos dias atuais é superestimada.
“Não devemos confundir a tristeza, o luto, condições absolutamente normais para os humanos, com ‘doença’. Num mundo operativo e exigente, estar mais pensativo, fechado, pode parecer ruim para os outros, despertando preocupação, mas pode ser altamente saudável para quem a experimenta, pois permanecer com as mesmas respostas sempre e dissimular conflitos, a princípio pode parecer bom, mas ao fim pode cobrar um custo elevado. Pode ser o início de uma ruptura da relação mente-corpo. Doenças psicossomáticas brotam desse caldo”, observa o psiquiatra.
Contudo, João Maurício alerta que nenhum sofrimento deve ser minimizado: “Se uma pessoa estiver sofrendo pela perda de um objeto, por exemplo, ela está sim com a saúde afetada. O motivo do sofrimento pode parecer banal para uma pessoa, mas para quem sente é algo concreto e importante, que pode, inclusive, evoluir para uma depressão, causando maiores problemas à sua saúde. A tristeza pode esconder muitos outros problemas”, avalia o pediatra.
Indicadores
Se definir saúde é complicado, medir então requer vários critérios, sejam eles claros ou abstratos. Coletivamente, os indicadores são mais pragmáticos, a exemplo dos demográficos (como natalidade, fecundidade, expectativa de vida), socioeconômicos (como renda per capita e familiar, escolaridade, saneamento) e os próprios da saúde (como morbidade e mortalidade).
Individualmente, essa medição é mais subjetiva: “podemos dizer que é possível medir a saúde de um indivíduo através do grau de felicidade, autoestima, satisfação com o trabalho e com a família, tempo para o lazer e relaxamento”, esclarece Carlos Eduardo Gouveia da Silva, educador físico da Microrregião Vila Maria / Vila Guilherme. A saúde mental pode ser medida de acordo com a resposta do indivíduo ao seu meio, como desenvolvimento pessoal e social, resposta emocional e as atitudes positivas em relação a si próprio, dentre outros.
Equilíbrio entre hábitos saudáveis e bem-estar social
Se saúde é mente e corpo saudável, em equilíbrio, de modo que a pessoa possa interagir com outras pessoas em sociedade, apta a se realizar pessoalmente, profissionalmente, com resposta emocional condizente a cada “provocação” de seu meio, o que é preciso para promovê-la?
Objetivamente a resposta pode parecer simples: melhorar o acesso ao sistema de saúde, melhorar o saneamento básico da população, suas condições de moradia, ofertar maior número de atividades físicas e de lazer, mas “tudo isso não adianta de nada se as pessoas não entenderem que elas são responsáveis pela sua própria saúde. Que elas precisam mudar seus estilos de vida, melhorar a alimentação, praticar atividade física, dormir bem, diminuir o estresse, ir ao médico rotineiramente e realizar exames preventivos”, alerta Carlos Eduardo.
Orquestra sinfônica
“Precisamos lembrar sempre que somos um conjunto que precisa estar em sintonia. Como uma sinfonia musical, onde todos os músicos devem estar afinados, senão a música fica ruim, desafinada. E no caso dos aspectos espiritual, mental, emocional e físico, nós somos o maestro”, define o pediatra João Maurício.
E, para manter a afinação, quer dizer, a saúde, tanto física comomental, a resposta vai além das já conhecidas (mas não menos importantes) orientações, como as mencionadas logo acima por Carlos Eduardo. Segundo Guilherme Gregório, João Maurício e Carlos Eduardo, para manter a mente sã e o corpo são, em harmonia, podemos ter alguns cuidados, como:
– Estar atento aos sinais do corpo.
– Acompanhar fatores de risco, como doenças hereditárias na família.
– Alimentação saudável, com o mínimo possível de comida industrializada.
– Ingerir líquidos e se proteger do sol.
– Gerenciar maus hábitos e os níveis de estresse.
– Ter uma atividade de vida que promova o seu crescimento pessoal e coletivo.
– Paciência e tolerância com o próximo.
– Reservar um tempo para si próprio, para contemplação e apreciação.
– Dedicar exclusivamente um tempo à família e amigos.
– Buscar espiritualidade, meditação, altruísmo.
– Praticar atividade física ou um esporte prazeroso.
– Ter lazer, ir ao cinema e teatro, passear em parques, conhecer lugares diferentes.
– Descobrir e se envolver em coisas novas e atrativas.
– Ter uma boa convivência em sociedade.
– Dormir bem.