O dia 28 de Julho é marcado por ser o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 325 milhões de pessoas no mundo vivem com infecção crônica causada pelos vírus da hepatite B ou C. Segundo dados do Ministério da Saúde, de 2000 a 2016 foram identificados no Brasil 66.196 óbitos por causas básicas e associadas às doenças virais dos tipos A, B, C e D. Desses, 1,7% foram associados ao tipo A, 21,4% ao B, 75,8% ao C e 1,1% ao D.
Hepatite é um nome usado para designar qualquer inflamação no fígado, que pode ser aguda ou crônica. Na forma aguda, os sintomas incluem olhos amarelos, dores no corpo, moleza, falta de apetite, dor abdominal e um mal estar geral. A outra maneira de manifestação é a forma mais crônica e silenciosa. Nesses casos é difícil o paciente ter sintomas, que geralmente aparecem quando a doença já está em um estágio mais avançado, com uma cirrose, por exemplo.
Do grupo das hepatites virais, as mais comuns no Brasil são as hepatites A, B e C. “Na prática, a grande diferença é que a hepatite A, na maioria das vezes, acontece de forma aguda, muitas vezes em crianças, ou em adultos que não foram imunizados, e nunca vira cirrose. Já as hepatites B e C também podem se manifestar de forma aguda, mas, principalmente a C, podem gerar doença crônica do fígado, como cirrose e o câncer de fígado com necessidade de transplante”, explica Carolina Pimentel, hepatologista do Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini (HTEJZ).
Transmissão e tratamento
Esses três tipos mais comuns são transmitidos de maneiras diferentes. A hepatite A é transmitida por água e alimentos contaminados, e, por ser uma transmissão via oral, geralmente é muito comum na infância. Já os tipos B e C em geral são transmitidos por vias de contaminação por sangue. A hepatite B, por sua vez, também é considerada uma doença sexualmente transmissível. “Quando falamos em sangue é qualquer forma que possa colocar o sangue de uma pessoa em contato com uma via de contaminação, o que envolve até mesmo procedimentos simples como ir à manicure, fazer uma tatuagem ou acupuntura em locais sem técnicas adequadas de esterilização”, alerta Carolina.
Quanto ao tratamento, a hepatite A não requer medicação específica, já que o vírus não fica crônico no organismo, basta dar conforto para amenizar os sintomas do paciente. Para as hepatites B e C existem as chamadas medicações antivirais. O SUS disponibiliza dois medicamentos para a hepatite B que garantem o controle da doença na maioria dos pacientes. Não cura em definitivo, mas controla completamente. Quanto à hepatite C, a boa notícia é que hoje já existem medicamentos eficazes que também são capazes de controlar a doença de maneira eficiente. “Até cerca de cinco anos atrás, nós tínhamos medicações que davam muitos efeitos colaterais e poucas chances de cura. Desde março deste ano, o SUS estabeleceu o acesso gratuito a todos os pacientes que são portadores de hepatite C aos novos antivirais para controlar a doença. Muitas vezes é possível alcançar de 95% a 99% de chance de cura, um grande avanço”, explica a hepatologista.
É importante lembrar que as vacinas contra hepatite A e hepatite B fazem parte do calendário vacinal do Ministério da Saúde e são disponibilizadas pelo SUS através de uma dose e três doses, respectivamente. “Qualquer pessoa que não tenha tomado as vacinas quando criança, pode procurar um posto de saúde para se vacinar”, diz a médica. Para a hepatite C não existe vacina e, de acordo com a especialista, ela é hoje a principal causa de cirrose e de transplante de fígado no mundo. Em 2017, o HTEJZ realizou 12 transplantes de fígado por conta de hepatite C. No primeiro semestre de 2018, já foram realizados 10 procedimentos.
A prevenção da hepatite A é simples, feita através da higienização correta dos alimentos e lavagem das mãos. Lembre-se também de manter a carteira de vacinação atualizada. Com relação aos tipos B e C é preciso ter cuidado ao se expor em ambientes de risco com sangue contaminado. “Leve seu próprio material ao ir à manicure, verifique se locais como clínicas odontológicas, de acupuntura e estúdios de tatuagem seguem as normas corretas de esterilização de materiais”, alerta Carolina.
A especialista ressalta também que muitas pessoas são contaminadas por hepatite C através do uso de drogas por conta do compartilhamento de seringas. E não devemos esquecer do uso de preservativo em toda e qualquer relação sexual, que também pode ser uma via de transmissão para o tipo B da doença.
A hepatologista faz ainda um alerta sobre o tipo C da doença e recomenda que as pessoas com mais de 55 anos peçam um exame de hepatite C no posto de saúde ou em uma clínica quando fizerem um check-up. Isso porque são pessoas que passaram por uma época onde os cuidados com a doença não eram muito conhecidos. O vírus foi descoberto na década de 90, então muita gente acabou sendo contaminada e não sabe. “As pessoas precisam saber se tem hepatite C, porque a única forma de evitar o desenvolvimento da cirrose e do câncer é fazendo o diagnóstico precoce”, diz Carolina.