Em meio à epidemia de dengue que atingiu várias regiões do Brasil no primeiro semestre de 2015, alguns casos de zika vírus foram relatados: manchas avermelhadas na pele, febre alta, dores de cabeça e no corpo. Sintomas bem mais amenos que os da própria dengue, ou do também quase desconhecido chikungunya, que causa uma espécie de paralisia temporária.
O zika tem sintomas mais leves e passa rápido, em cinco dias pode desaparecer. Essas três doenças são todas transmitidas pelo mesmo mosquito, o aedes aegypti, que ainda é responsável pela febre amarela, febre do Nilo e a encefalite japonesa.
O zika vírus é novo no Brasil, mas foi identificado pela primeira vez em 1947 em Uganda, na floresta de Zika; foi isolado apenas em 1968, com amostras coletadas em nigerianos.
Surtos de zika fora da área geográfica original, África e Ásia, só foram relatados em 2007, na ilha de Yap, no Oceano Pacífico; no final de 2013, na Polinésia Francesa, com mais de 10 mil casos diagnosticados, sendo que cerca de 70 evoluíram para um estado grave, com complicações neurológicas, como meningoencefalite, e doenças autoimunes, como leucopenia (redução do nível de leucócitos no sangue).
Entre 2014 e 2015 o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) reconheceu pelo menos 17 casos de má-formação do sistema nervoso central relacionados ao zika.
Nas Américas, o Chile foi o primeiro a confirmar um caso de zika transmitido em seu território, isso em fevereiro de 2014.
Por que essa trajetória é importante? Porque há cerca de dois meses o Brasil viu aumentar incrivelmente casos de microcefalia relacionados ao zika. A relação causal ainda não é dada como certa, mas é a principal teoria no momento.
No dia 19 de novembro o Ministério da Saúde publicou o protocolo clínico sobre o zika, com base em pesquisas realizadas no Instituto Evandro Chagas, um laboratório de nível 4, onde são realizadas pesquisas avançadas, pelos melhores virulogistas, epidemiologistas e médicos do país. Esse documento aponta uma ligação entre o zika e os casos de microcelafia do nordeste.
“Chegaram a essa conclusão através de exames de sangue, líquido amniótico de mulheres grávidas e líquor, substância cerebral, de crianças com microcefalia, que resultaram positivo para o zika”, explica Bráulio Araújo, infectologista Hospital Geral de Pirajussara, unidade da Secretaria de Estado da Saúde gerida pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).
O que sabemos sobre o zika
O que se sabe, até o momento, é que os efeitos do zika vírus são muito mais graves do que pareciam anteriormente. O resto está sendo estudado. “Sabíamos que o zika afeta o Sistema Nervoso Central, mas essa relação com microcefalia é uma coisa nova. Alguma coisa fez com que fetos no nordeste, em contato com o zika, não desenvolvessem o cérebro, resultando em microcefalia. A questão é: onde se encontra o fator infectante, no hospedeiro (mulheres grávidas) ou no patógeno – o vírus?”, questiona o infectologista.
Só neste ano, até 28 de novembro, foram notificados 1.248 casos suspeitos de microcefalia, contra 147 casos em 2014. A maioria está concentrada no Nordeste, mais especificamente em Pernambuco (646 casos) e Paraíba (248 casos), e a Organização Mundial de Saúde emitiu um alerta mundial sobre a epidemia de zika vírus, pedindo que os países-membros estabeleçam capacidade de diagnóstico da doença e que se preparem para um aumento no número de casos reforçando o atendimento pré-natal e neurológico.
As medidas de combate à dengue também previnem o zika
O tratamento do zika, como a do dengue, é somente dos sintomas, com remédios para baixar a febre e diminuir as dores, sendo que o ciclo da doença é de dois a cinco dias.
A prevenção é o mais importante. “Zika é uma doença prevenível. O foco não é o de evitar a gravidez, mas sim evitar pegar a doença”, afirma Bráulio Araújo.
Combater o mosquito é a forma mais segura de ficar longe da doença, e isso pode – e deve – ser feito por cada um: acabar com os criadouros simplesmente eliminando a água parada.
Usando repelente, mas para afastar o mosquito da dengue, que é o mesmo que transmite o zika, é necessário que o produto tenha uma substância chamada icaridina. Mulheres grávidas também podem usar repelente, converse com o seu obstetra para saber qual o mais indicado.
Mesmo nas épocas mais quentes do ano, usar roupas de manga comprida, e calças é ainda uma forma de se manter longe da picada do mosquito.
“Como não sabemos em que momento da gravidez há o perigo da microcefalia, a medida mais segura é manter-se longe do mosquito transmissor”, afirma o infectologista.
Microcefalia – o que é
A microcefalia é uma condição rara, em que a criança nasce com o crânio menor. O normal para um recém-nascido com nove meses de gestação é que o perímetro da cabeça tenha, no mínimo 34 cm. Com a microcefalia, ele chega até 33 centímetros, às vezes nem isso.
Várias coisas, como uso de drogas pela mãe durante a gravidez, ou doenças infecciosas, podem causar microcefalia, que não tem cura e pode acarretar em atraso no desenvolvimento neurológico, psíquico e/ou motor, déficit cognitivo, visual ou auditivo e epilepsia
Algumas vezes a cognição da criança não é afetada pelo tamanho do cérebro. Não há tratamento para reverter a microcefalia, mas é possível melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida da criança com o acompanhamento por profissionais como fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais.