Antes de tudo, quando consideramos uma cidade “muito alta”? Quando ela está muito acima do nível do mar. Por exemplo, a cidade de São Paulo está localizada a cerca de 760 metros acima do nível do mar, assim ir do litoral para a cidade não muda praticamente nada no nosso organismo. Mas não estranhe se quando você viajar para La Paz, na Bolívia, que está a mais de 3.600 metros, ou Cusco, no Peru, a 3.400 metros, começar a sentir falta de ar.
Por que exatamente isso acontece? Basicamente porque a quantidade de moléculas de oxigênio disponíveis, literalmente, diminui. “A pressão atmosférica, que nada mais é do que o peso do ar sobre nós, diminui com o aumento da altitude, ou seja, quanto mais alto estamos, menor é a pressão do ar sobre a gente. Por sua vez, quanto menor é essa pressão, menor será também a pressão especificamente das moléculas de oxigênio, isto é, a quantidade de oxigênio sobre a gente”, explica o fisiologista Thiago Lopes Ribeiro, do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“O oxigênio representa 21% da pressão atmosférica em nosso planeta. É um número fixo, igual em qualquer lugar do mundo. Quando estamos ao nível do mar, a uma pressão de 760 mmHg, o oxigênio corresponde a 160 mmHG. Já em La Paz, na Bolívia, a pressão é de 523 mmHg e, consequentemente, a pressão do oxigênio cai para 110 mmHg”, diz Thiago. Cabe ressaltar que mmHg significa milímetros de mercúrio, sendo considerada a unidade de medida convencional para medir a pressão atmosférica.
Quanto mais alto, piores serão os sintomas, que incluem dor de cabeça, falta de ar, aceleração dos batimentos cardíacos, entre outros. Nem todo mundo tem esses sintomas quando vai para lugares de altitude, mas também não é possível saber quem vai ou não sentir alguma coisa. “A magnitude desses sintomas varia de pessoa para pessoa e quanto mais alto, maior é a proporção de indivíduos que apresenta os sintomas”, lembra o fisiologista. No entanto, fumantes, sedentários, pessoas com problemas cardíacos, respiratórios ou asma, podem sofrer mais. A mais de 5 mil metros de altitude qualquer um vai sentir, pelo menos, algum desconforto.
Para tentar amenizar os efeitos, o especialista recomenda progredir nas altitudes aos poucos, esperando que em cada progressão o corpo se aclimate. Vale também melhorar o condicionamento físico, praticando exercícios já algumas semanas antes de viajar.
Você já percebeu que quando um time de futebol brasileiro vai disputar uma partida na Colômbia ou no Peru, por exemplo, os jogadores precisam chegar à cidade da partida com dias de antecedência? Isso acontece exatamente para que o corpo deles se acostume à altitude, que pode até mesmo prejudicar o desempenho dos atletas.
E o caminho inverso?
Quem vive em lugares muito altos e desce ao nível do mar não tem os mesmos sintomas. Mas, quase sempre que estamos descendo a serra para o litoral reclamamos que nossos ouvidos ficam “entupidos”. O fenômeno também pode acontecer ao andar de avião ou mergulhar em grande profundidade. E isso também tem a ver com a pressão de ar.
“Quando vamos para mais próximo do nível do mar, diferentemente de quando vamos para lugares altos, a pressão de ar sobre nós aumenta, tornando a pressão no ouvido externo maior do que a do ouvido médio. Dessa forma o tímpano fica estirado para dentro, não sendo capaz de exercer suas funções de forma normal. Isso piora nossa audição e dá a sensação de ouvidos entupidos”, explica Ribeiro.
Bocejar, ingerir líquidos e até mascar chiclete pode ajudar a aliviar essa sensação.