A Middle East Respiratory Syndrome – Mers (sigla para Síndrome Respiratória por Coronavírus do Oriente Médio) infectou em cerca de um mês 166 pessoas – que foram diagnosticadas – e fez 24 vítimas fatais, só na Coréia do Sul. Lá, ainda estão em quarentena 6.700 pessoas, dentro de suas casas ou em instalações médicas.
A grande maioria das pessoas foi infectada no Samsung Medical Center, um dos mais importantes hospitais da capital Seul.
O coronavírus – uma espécie de vírus que pode levar a diversas infecções respiratórias, desde um resfriado comum até doenças mais graves – específico do Mers foi identificado pela primeira vez na Arábia Saudita em 2012 e desde então infectou mais de mil pessoas, causando cerca de 400 mortes em 25 países da Ásia, África, Europa e América – com a concentração maior na Arábia Saudita (85%).
Essa semana, o Mers já causou a morte de uma pessoa na Alemanha, que esteve na Arábia Saudita em fevereiro, e uma na Tailândia. Não há tratamento para a doença e nem vacina. Na Coréia, especialistas estão divididos: autoridades acreditam que até o fim do mês a epidemia estará sob controle, enquanto que profissionais de saúde sugerem a possibilidade da ocorrência de uma nova grande onda de contaminações.
Mutação é o sinal de perigo
O problema maior é que, como todo vírus, esse também sofre mutações. Aliás, foi assim que ele se difundiu em 2003: suspeita-se que ele seja uma mutação de um vírus de camelo, pois é “muito parecido nas sequências genéticas com o que foi encontrado em camelos bebês, bem como coincide com a sorologia positiva de camelos adultos, embora sem infecção, o que indica infecção prévia”, explica Nancy Bellei, infectologista do Hospital São Paulo, especialista em doenças infecciosas.
O diagnóstico da doença é feito através de técnicas de identificação de material genético do vírus, e laboratórios de referência no Brasil têm condições de realizá-lo. Para a infectologista, o Brasil não precisa se preocupar com o Mers no momento. Nenhum caso foi relatado no país e já temos um protocolo de orientação e medidas de suporte hospitalar, se houver necessidade.
Além disso, essa doença não é altamente contagiosa, como a gripe. “É necessário um contato próximo, com grande quantidade de vírus, para que a doença se desenvolva. Por isso a transmissão hospitalar. Fora do ambiente hospitalar o vírus se disseminou pouco, o que pode indicar que sua circulação não seja tão fácil, explicando a baixa transmissão”, explica Nancy Bellei.
Por enquanto, os maiores afetados nas formas mais graves foram idosos com doenças crônicas, porque o vírus, potencialmente fatal, acaba por piorar a doença pré-existente. Cerca de 30% dos infectados não resistem, pois além de tudo não há tratamento específico para a doença, nem vacina contra o vírus, somente medidas de suporte e direcionadas aos sintomas.
A quarentena, que atualmente isola quase sete mil pessoas na Coréia do Sul, é um recurso usado quando vírus emergentes, com elevada mortalidade, são diagnosticados e não há tratamento eficiente. “O período de incubação é maior que o da gripe comum e precisamos ter certeza que não escapará nenhum caso, é um rigor máximo que se faz em situações como essas”, explica a infectologista.
“Além disso, pesquisadores receiam que aconteça transmissão na comunidade, com eventuais mutações transformando o vírus. A lembrança da Síndrome Respiratória Aguda – Sars, que foi muito importante no continente asiático e era causada por um tipo de coronavírus, ainda está fresca na memória. O vírus da Sars sofreu mutações antes de se espalhar em 2003 e contaminar 8.096 pessoas, matando 774”, completa a doutora.