A febre amarela voltou a causar preocupações. De julho de 2017 até 14 de janeiro deste ano, o Ministério da Saúde já registrou 35 casos de febre amarela, que envolvem principalmente a região sudeste, dos quais 20 vieram a óbito. Foram notificados 470 casos suspeitos, sendo que 290 foram descartados e 145 permanecem em investigação.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar todo o Estado de São Paulo como área de risco de febre amarela e está recomendando a vacinação para os viajantes internacionais que visitem qualquer cidade paulista. O Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças já emitiu um alerta de avaliação de risco para as pessoas que viajarem ao Brasil durante o carnaval.
O que se vê hoje são postos de saúde lotados por uma população desesperada em busca da vacina, formando filas com horas de espera. O infectologista Rafael Baptista Pardo, do Hospital Municipal Vereador José Storopolli, explica que o risco para que a doença se torne urbana e se espalhe por toda a região metropolitana é muito baixo. “Aconselhamos apenas a população em áreas de risco a procurar os postos de sua região para ser vacinada. As pessoas que vivem em locais que não são considerados de risco devem aguardar a disponibilidade da vacina (seja ela íntegra ou fracionada) e se dirigirem ao posto de saúde de sua região. As equipes dos postos de saúde têm profissionais na quantidade proporcional para aquela população. Ir a postos de outros locais compromete o atendimento e gera queda nos estoques, desordem e longas filas de espera”, diz o médico.
Para esclarecer algumas dúvidas, pedimos que as pessoas nos enviassem suas principais dúvidas sobre a doença e a vacina. Confira os esclarecimentos do especialista.
Após tomar a vacina, quando tempo depois começa a fazer efeito?
Após a vacinação, nosso corpo demora de 1 a 2 semanas para atingir níveis de anticorpos capazes de nos defender da doença. O pico máximo de anticorpos aparece entre 3 e 4 semanas após a vacinação.
Bebês e mulheres que amamentam podem tomar a vacina?
Crianças devem ser vacinadas apenas a partir dos 9 meses de idade. Em caso de residirem em locais de risco de infecção (especificados pelo governo e pela secretaria da saúde) essas crianças podem ter sua vacinação antecipada para 6 meses de idade. No caso de mulheres que estejam amamentando, a vacinação é contraindicada caso possuam criança com até 6 meses de idade que esteja sendo amamentada por ela. Da mesma forma, o caso pode ser revisto e a vacinação pode ser administrada em caso de a paciente residir em zona de risco de infecção. No entanto, em casos de vacinação em mulheres amamentando, com crianças menores de 6 meses, a amamentação deverá ser suspensa por 10 dias após a vacinação.
Somente o Aedes aegypti transmite?
A transmissão urbana se restringe apenas ao Aedes aegypti. Porém, em zonas de mata e fora das cidades, principalmente onde há primatas não humanos, a transmissão pode ocorrer pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes.
Grávidas podem tomar a vacina? Se não tomar, quais são os riscos?
Gestantes não podem tomar a vacina em nenhuma hipótese. A administração de vacina para gestantes pode desenvolver a doença na mãe e no filho, assim como cursar com a interrupção da gestação. O risco para a gestante que não toma a vacina é o de desenvolver a doença caso esteja em local de risco. Para esses casos orientamos o uso de telas protetoras nas janelas, mínima exposição e uso frequente de repelentes.
Quem já tomou a vacina há 10 anos, tem que renovar a vacinação?
Não. Quem já fez o uso da vacina em dose plena não necessita renovar seu estado vacinal. Estudos recentes comprovaram que esta dose é válida por toda a vida e confere imunidade.
Quem fez transplante de córnea e não toma imunossupressores pode ou não tomar a vacina?
De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), pacientes transplantados não devem tomar nenhum tipo de vacina de vírus vivo atenuado.
A febre amarela foi classificada pela OMS como crítica. Por que não está havendo uma campanha mais agressiva?
A febre amarela é considerada uma doença crítica pela OMS devido ao fato de não possuir uma cura e apenas um tratamento. Nosso surto (ainda não é uma epidemia) ocorre em locais específicos e próximos de zonas de mata que possuam primatas não humanos que possam abrigar o vírus e adoecer.
As campanhas estão ocorrendo de acordo com a necessidade. Os locais de risco estão recebendo a vacinação há quase 1 ano, porém, a população não compareceu aos locais de vacinação como esperado pelas autoridades de saúde. No momento, o governo está fazendo seu máximo para atender a procura pela vacina. Os estoques não estão no fim, toda a população que precisar ser vacinada será.
Quem não pode tomar a vacina?
Pacientes portadores de doenças imunológicas (HIV e câncer, por exemplo), pacientes transplantados, gestantes, crianças abaixo de 6 meses, pacientes em uso de medicações que alterem sua resposta imunológica, pacientes com alergia à componentes da vacina ou em uso de quimioterapia e radioterapia não devem ser vacinados.
Quem pode tomar a vacina?
Pacientes acima de 9 meses de idade (6 meses em locais de risco), que não estejam gestantes, sem problemas de imunidade, sem alergia aos componentes da vacina, sem uso de imunossupressores e que não sejam transplantados ou em uso de radioterapia ou quimioterapia. Esses pacientes podem ser vacinados.
A vacina tem efeitos colaterais?
Sim, a vacina pode causar efeitos colaterais. Os mais comuns são febre, mal estar e dores pelo corpo. Os sintomas tendem a durar entre 1 a 5 dias após a vacinação.
A dose fracionada da vacina funciona? Quanto tempo dura sua proteção? Será necessário tomar outra dose depois? Qualquer pessoa pode tomar essa dose fracionada?
A dose fracionada funciona. Ela é composta de uma porção menor de antígenos (partículas do vírus). Essa estratégia de vacinação fracionada já foi utilizada em países africanos onde grandes populações precisaram ser vacinadas em um curto período de tempo e surtiu efeito. O tempo de imunização é de 8 anos. Após esse período, é indicado que o paciente faça uso da dose de reforço, se residir em local de risco ou se viajar para locais que requeiram a vacinação. As indicações e contraindicações para essa forma de vacina são as mesmas que a da vacina em dose integral.
Quais são as atuais áreas consideradas de risco?
As áreas consideradas de risco na região de São Paulo são a zona norte da capital, cidades ao norte da capital e municípios na região noroeste.
Quais são os principais sintomas? É uma doença fatal?
Os principais sintomas da doença são: dores pelo corpo (principalmente nas costas, pernas e ombros), dores abdominais, náuseas, vômitos, diarreia, pele amarelada (icterícia) e febre alta. A doença pode ser fatal se o paciente não receber atendimento em pouco tempo. A maioria dos casos não cursa com formas graves e com morte, no entanto, todos os casos suspeitos devem ser levados ao hospital da região para atendimento e diagnóstico adequado.
Como as pessoas que não podem tomar a vacina podem se proteger?
Pacientes que não podem ser vacinados devem realizar outras formas de proteção. A primeira delas é evitar viajar para locais considerados de risco. Em caso de residirem em locais de risco, os mesmos devem usar constantemente repelentes, manter janelas fechadas o máximo de tempo, colocar telas em suas janelas (telas que previnam a entrada de insetos) e fazer uso de inseticidas dentro de suas residências.
Pacientes idosos, com pressão alta e colesterol podem tomar a vacina?
Pacientes idosos devem tomar a vacinação (dada pelo SUS) caso residam em locais de risco de infecção ou viagem para esses locais. Caso residam em locais que não são considerados zonas de risco, ou não viajarem para eles, devem aguardar a vacinação em sua região, para que não sobrecarreguem os locais vacinando a população em risco.
Do ponto de vista médico, não há contraindicações para pacientes portadores de taxas elevadas de colesterol (fazendo uso de medicação ou não) ou para pacientes com hipertensão arterial sistêmica (pressão alta). Para pacientes acima de 60 anos, é aconselhável que passem em consulta e avaliação com seu médico, para que ele faça um relatório indicando ou não a vacinação.
Por que pessoas que tem artrite reumatoide não podem receber a vacina e como elas podem se proteger?
As pessoas que tenham artrite reumatoide podem sim ser vacinadas, desde que não usem medicações como corticoides ou outros imunossupressores. Caso elas façam uso dessas medicações, elas deverão se proteger com repelentes, telas para mosquitos e janelas fechadas, além de evitarem locais de risco.
Quem é celíaco pode tomar a vacina? É verdade que dá reações como meningite e Síndrome de Guillain-Barré?
Não há contraindicação da vacina para pacientes celíacos. As vacinas não causam esses efeitos descritos, como Guillain-Barré ou meningite.
Pacientes com esteatose hepática grau 2 podem tomar a vacina?
Pacientes portadores de esteatose hepática (gordura no fígado) podem tomar a vacina independente de seu grau de esteatose (caso não possuam nenhuma doença que comprometa sua imunidade).