A leishmaniose é uma doença que pode atingir seres humanos e cães que, caso não seja tratada adequadamente, pode apresentar uma taxa de mortalidade de até 90%. Os sintomas são variados, dependendo da fase e da forma da doença. A forma visceral, também conhecida como febre negra ou kalazar, apresenta-se com febre, fraqueza, dores abdominais, palidez, anemia e aumento do baço e do fígado. A forma cutânea pode se apresentar como úlceras que não cicatrizam, com as bordas elevadas e indolores. Já a forma mucocutânea pode se manifestar com quadro de úlceras e perfurações no nariz, gengiva, porção interna da boca e até mesmo da garganta.
Segundo o Ministério da Saúde, em dez anos, o número de leishmaniose visceral no Brasil caiu 9%, passando de 3.597 casos em 2005, para 3.289 casos em 2015. Porém, um estudo da Universidade do Oeste de São Paulo (Unoeste) aponta que, apesar do número de casos não estar aumentando ao longo dos anos, a doença está se espalhando por municípios do Estado e avançando até a capital. O município de Guarujá, por exemplo, está a 400 km de regiões consideradas endêmicas e registrou três casos da doença entre 2016 e 2017, dois deles letais. Dados da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo indicam que, desde 1999, quase três mil casos da doença já foram confirmados em todo o Estado de São Paulo. Em 2017, Porto Alegre e Florianópolis registraram casos de leishmaniose visceral humana pela primeira vez.
“A doença, que é transmitida através da picada de mosquitos flebotomíneos, conhecidos como mosquito palha, pode se apresentar de três formas, sendo elas: cutânea, quando afeta a pele, mucocutânea, quando afeta mucosas e pele, e visceral, quando afeta órgãos internos”, explica Rafael Pardo, infectologista do Hospital Municipal Vereador José Storopolli.
Os mosquitos se proliferam em materiais em decomposição e lixões, sendo que somente as fêmeas são responsáveis pela picada em humanos. Na natureza, o parasita pode se alojar em outros animais, chamados hospedeiros, como lobos, raposas, coelhos e roedores. Nas zonas urbanas, os cães são o principal hospedeiro. “É bom ressaltar que os cachorros não são responsáveis diretos pela transmissão da leishmaniose, no entanto se um mosquito palha picar um cão infectado, o mesmo mosquito poderá picar um ser humano e transmitir a doença”, alerta o infectologista.
Diagnóstico e prevenção
Para realizar o diagnóstico é necessário observar aspectos clínicos e laborais, que incluem exame de biópsia local, exames de sorologia, dentre outros. “Em casos mais específicos, pode-se realizar o teste de PCR, um teste molecular com alta sensibilidade e especificidade que diagnostica com alta precisão a doença”, explica Rafael Pardo.
Apesar de grave, a doença tem cura e, quando o paciente recebe o tratamento em tempo adequado, a incidência de sequelas é baixa.
Em humanos, a prevenção consiste no uso de repelentes, além de blusas de mangas compridas e calças quando a pessoa estiver em um local de mata. Já para os cães existe a vacina contra a leishmaniose, que deve ser aplicada em todo e qualquer animal que resida em zona de risco de infecção. “A prevenção, através da vacina em cães, diminui a incidência de casos em humanos”, alerta o especialista. Coleiras repelentes ajudam a manter o mosquito afastado dos cães.
De acordo com o infectologista, o aumento do número de casos em diversos municípios pode estar associado a alguns fatores. Um deles é o avanço das cidades e da população, muitas vezes com seus cães de estimação, em locais de preservação ambiental ou áreas de mata nativa. “Outra causa é a falta de vacinação nos cães, aumentando a chance deles serem infectados”, diz Rafael. Além disso, o especialista chama a atenção para a redução na manutenção de praças e parques públicos em diversas cidades. “Isso colabora com o aumento de material orgânico depositado, gerando aumento na proliferação de mosquitos responsáveis pela transmissão da doença”, completa.