Até o último dia 19 de janeiro, o Ministério da Saúde já havia confirmado 23 mortes por febre amarela em Minas Gerais. Além disso, já são 34 casos confirmados, outras 31 mortes suspeitas e 141 ocorrências que ainda estão sendo investigadas. Os casos estão concentrados em regiões de mata de 29 municípios mineiros.
Os números são muito acima dos registrados em anos anteriores. Em 2015, foram registrados nove casos de febre amarela silvestre em todo o Brasil, com cinco óbitos. Em 2016, cinco pessoas também morreram por conta da doença, dentre os sete casos confirmados. A febre amarela silvestre nunca desapareceu, mas os últimos casos da febre amarela urbana foram registrados em 1942, no Acre.
O rápido aumento no número de casos fez com que o governo ampliasse e intensificasse a vacinação, e a preocupação é que a doença chegue até grandes centros urbanos, onde pode sair do controle.
Entenda o que é
A única diferença entre febre amarela silvestre e urbana é o vetor. Enquanto nas cidades a doença é transmitida pelo Aedes aegypti, na mata são os mosquitos Haemagogus Sabethes que a transmitem. Mas o vírus é o mesmo.
“A febre amarela é uma doença infecciosa viral do grupo das arboviroses, da família dos Flavivírus, transmitida por mosquitos. Considerada endêmica nas regiões da África e América do Sul, é uma doença de notificação compulsória com incidência de aproximadamente 200.00 casos anuais no mundo”, explica Rafael Baptista Pardo, infectologista do Hospital Municipal Vereador José Storopolli, administrado pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).
No Brasil, o principal vetor de transmissão é o mosquito Aedes aegypti, já muito conhecido nosso por transmitir outras doenças como a dengue, zika e chikungunya. A transmissão ocorre através da picada do mosquito.
Sintomas
Em grande parte dos casos, os pacientes são assintomáticos. Depois do período de incubação, que varia de três a sete dias após a picada, as manifestações clínicas, caso surjam, podem ser leves, moderadas ou graves, conforme explica o infectologista.
– Leve: é restrita a quem já possui imunidade. Neste caso, os principais sintomas são cansaço, dor de cabeça e febre.
– Moderada: as manifestações moderadas ocorrem em pacientes que já possuem imunidade para outros vírus da família dos Flavivírus (como a dengue, por exemplo). Costuma ser um quadro de curta duração, com febre, icterícia (pele amarelada), dor de cabeça, dores pelo corpo e em articulações e náuseas ou vômitos.
– Grave: pode até ser letal. Há o aparecimento repentino de febre alta, dor de cabeça intensa, dores musculares, articulares e abdominais, náuseas e vômitos e a presença de hepatomegalia (aumento do fígado). No exame médico, pode-se observar um quadro de dissociação pulso-temperatura (sinal de Faget), onde o paciente apresenta batimentos cardíacos mais lentos por conta da febre. Os sintomas podem melhorar de dois a três dias, com o reaparecimento após esse período, muitas vezes mais intensos.
Ao perceber sintomas como febre, dores no corpo e dores de cabeça, principalmente se a pessoa esteve em regiões consideradas de risco, é preciso procurar uma Unidade Básica de Saúde. Aqueles que apresentarem icterícia (pele amarelada) ou dores abdominais intensas devem procurar um pronto-socorro o quanto antes.
O tratamento para a febre amarela é sintomático, isto é, não há um tratamento para a doença em si e o paciente recebe antitérmicos, analgésicos e hidratação para combater os sintomas que aparecem.
Vacinação e prevenção
A vacina é a melhor estratégia de prevenção da febre amarela. “A vacinação deve ser incentivada e realizada de acordo com o calendário do Programa Nacional de Imunizações (PNI) nas regiões onde a doença é endêmica ou em locais com surtos. Pessoas que façam viagens para locais onde haja a possibilidade de contrair a doença também devem ser imunizadas”, explica Rafael Pardo.
O infectologista lembra ainda que gestantes, crianças com menos de seis meses de idade, alérgicos a ovos e pacientes com doenças que alterem a imunidade não devem ser vacinados.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a partir de 2014 ficou estabelecido que apenas uma dose já protege durante toda a vida. No entanto, para a emissão de certificados de imunização internacional (para viagens ao exterior), a vacinação deve ser repetida a cada 10 anos.
Como é transmitida através do mosquito, outras medidas de prevenção incluem, é claro, cuidados para evitar a picada e eliminar criadouros do Aedes aegypti. Veja as recomendações do especialista:
– Não deixe água parada em garrafas, caixas d’água, pneus e outros objetos que possam servir de criadouro.
– Use telas protetoras nas janelas e portas
– Repelentes à base de Dietiltoluamida (DEET) nas concentrações de 20% a 30% também reduzem as chances de contrair a doença.
Vai viajar? Fique atento!
Por enquanto, os casos confirmados são de febre amarela silvestre, contraídos em áreas de mata e não urbana. As áreas de risco são locais com matas e rios, onde o vírus e seus hospedeiros e vetores ocorrem naturalmente. Aqueles que vão viajar para áreas de risco, devem se vacinar com pelo menos 10 dias de antecedência, no caso de 1ª vacinação. “No Brasil, o nordeste e a faixa litorânea do país são as únicas regiões não consideradas como de risco. Lá fora, as áreas de risco incluem toda a porção da África abaixo do deserto do Saara e na América do Sul incluem Bolívia, Paraguai, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa”, destaca Pardo.
De acordo com o infectologista, o aumento súbito no número de casos deve-se a uma gama de fatores. “Os principais são o aumento na população de mosquitos, de moradias irregulares e em áreas de preservação ambiental e a aproximação dos centros urbanos às regiões de mata nativa, onde há números maiores de primatas”, explica o médico.