A glândula tireoide desempenha um papel fundamental em nosso organismo. Podemos dizer que ela é a “maestrina” das células. Localizada na região anterior do pescoço, ela é responsável pela produção de dois hormônios que podem acelerar ou retardar o metabolismo celular e sem os quais é impossível viver: o triiodotironina (T3) e o tetraiodotironina (T4).
O principal hormônio produzido nessa glândula em forma de borboleta é o T4, com ação mais duradoura. Ele se transforma no interior das células no T3, hormônio mais ativo que estimula o funcionamento das células e age em todos os órgãos.
“O hormônio tireoideano é necessário para o desenvolvimento neurológico nos fetos e nos recém-nascidos. Em todas as idades ele regula o metabolismo de proteínas, gorduras e carboidratos. A tireoide também produz a calcitonina, que regula o metabolismo do cálcio no sangue”, explica Flávio Antônio Siqueira Ridenti, médico intensivista e diretor clínico do Ambulatório Médico Especialidades (AME) Taboão da Serra, unidade gerenciada pela SPDM.
Para se ter uma ideia de como eles são importantes, no coração os hormônios controlam os batimentos cardíacos. No intestino, o peristaltismo (movimento de contração que possibilita a passagem do conteúdo estomacal pelo aparelho digestivo) e a frequência de evacuações. Eles agem também no equilíbrio da temperatura corporal, no humor, na memória e tem uma série de funções cognitivas.
Equilíbrio é o segredo
Quando trabalha em excesso, a tireoide produz hormônios em demasia, causando hipertireoidismo, que provoca aceleração das funções do organismo, desregulando os batimentos cardíacos, alteração nervosa e sono. “O hipertireoidismo provoca diversos sintomas, que vão desde nervosismo, palpitações, hiperatividade, aumento de sudorese até fadiga, aumento de apetite, perda de peso, insônia e fraqueza. Pode haver também aumento do fluxo menstrual e da duração da menstruação”, conta o médico.
Várias doenças e distúrbios podem causar o hipertireoidismo, como inflamação da tireoide e tumores não-cancerígenos na tireoide ou glândula pituitária, por exemplo.
“Ainda entre as causas do distúrbio temos a Doença de Graves, que provoca aumento da tireoide e exoftalmia (a aparência de olhos arregalados). Essa doença é causada por anticorpos que estimulam esta glândula a produzir hormônio de forma excessiva. A situação de maior gravidade do hipertireoidismo está relacionada com a ‘tempestade tireotóxica’, que tem vários sintomas, como febre, fraqueza, inquietação extrema com alterações emocionais, vômitos e aumento do fígado com icterícia leve, por exemplo. Em casos graves, o paciente pode até apresentar colapso cardiovascular e choque, com risco de morte”, alerta Flávio Ridenti.
O fato dos sintomas serem comuns a outras doenças dificulta o diagnóstico, mas fique atento se perceber perda de peso repentina, mesmo sem alteração ou com aumento na alimentação, dificuldade para dormir, inquietação ou qualquer um dos sintomas mencionados.
E quando produzimos menos hormônios?
O hipotireoidismo ocorre quando a glândula não produz hormônios suficientes, levando o organismo a trabalhar mais lentamente, ocasionando cansaço, desânimo, aumento de peso, inchaço, aumento da pressão arterial, alterações na menstruação e sonolência. A doença pode acontecer em qualquer idade, mas é mais comum em pacientes idosos. Cerca de 6% dos homens e 10% das mulheres acima dos 65 anos desenvolvem o problema.
“A origem mais comum desse mal está relacionada à causas autoimunes, isso é, à produção de anticorpos do paciente contra a própria tireoide. A segunda causa está relacionada ao uso de iodo radioativo, que é aplicado no tratamento de hipertireoidismo”, explica Flávio Ridenti.
Dentre os sintomas estão intolerância ao frio, constipação intestinal, esquecimento, alterações da personalidade, ganho de peso por inchaço, edema de face e de pálpebras, pele áspera, hipotermia e até demência ou psicose. Idosos têm sintomas menos específicos, como confusão mental, quedas, perda de apetite e incontinência urinária. Em mulheres, pode acontecer a ausência ou o aumento do fluxo menstrual. Já em recém-nascidos não tratados, a doença pode provocar retardo mental e é diagnosticada com o Teste do Pezinho.
É importante frisar que o hipotireoidismo prolongado e não tratado pode levar ao coma e convulsões, um quadro grave que apresenta risco de morte.
Tratamento
Não há nenhuma dieta ou cuidado especial para prevenir essas alterações na tireoide e o tratamento delas é feito com iodo radioativo, reposição hormonal ou até mesmo cirurgia, conforme a necessidade detectada pelo médico a partir de exames.
As disfunções da tireoide podem ser facilmente detectadas, através de um exame, o TSH, que avalia os níveis séricos do hormônio estimulador da tireoide. O teste é simples, de baixo custo e disponível pelo SUS.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, 15% da população brasileira apresenta alguma disfunção da tireoide, que pode acontecer em qualquer etapa da vida. Como os hormônios da tireoide controlam cada célula do corpo como se fosse o seu combustível e ninguém vive sem eles, fique atento aos sinais do seu organismo. Qualquer alteração deve ser relatada ao seu médico. Lembre-se: com saúde não se brinca.