Quando Joe passeia pelas alas do Hospital São Paulo, na pediatria, psiquiatria ou geriatria, por exemplo, caminhando tranquilamente com sua coleira na boca, toda a atmosfera se transforma e qualquer dor ou tristeza dão lugar à alegria. Joe é um lindo Labrador Retriever, dócil e carinhoso, que acaba de completar 11 anos. “Até quem não gosta de cachorro se apaixona”, derrete-se Luci Lafusa, dona de Joe que, com sua irmã Ângela Borges, mantêm o projeto Joe, O Amicão e seus Cãopanheiros.
Hoje, além de Joe, seu filho Bruce, de seis anos, e outros sete cachorros alegram diariamente a vida de pessoas acamadas em hospitais. “Já tivemos até 16 cães no projeto”, conta Lucy.
Alegria, alegria
O Joe não é um remédio, ele não tem poder de cura, mas promove bem-estar. Os pacientes do hospital que têm contato com ele liberam endorfina e têm uma sensação maior de alegria, que os fortalece, ajudando a combater a depressão e lidar melhor com sua cura.
“Sempre ouvimos as enfermeiras ou terapeutas contarem que os pacientes mais deprimidos reagem bem à passagem de Joe. Recentemente uma garotinha que nem queria comer direito saiu da cama para brincar com ele, a mãe dela ficou radiante”, comemora Lucy.
Quando visitam unidades com pacientes com paralisia cerebral, por exemplo, a equipe do hospital observa o enorme esforço que fazem para brincar com os cachorros, o que é muito positivo e desejado para casos assim.
E não são só os pacientes que se beneficiam com a passagem da cachorrada. Os pais, acompanhantes e profissionais da saúde também se divertem e aproveitam o momento para liberar as tensões.
Para os cachorros que trabalham suado de terça a sexta é recompensador. “Eles adoram, porque estão sempre dispostos e são alvos de carinhos e elogios. Só de ouvirem ‘que lindo!’, já posam para fotos, todos satisfeitos”, gaba-se a dona.
Origem
O Projeto Amicão nasceu em 2006, quando o ambiente hospitalar muitas vezes ainda era tratado como algo rígido, e era um tabu pensar em animais dentro desse espaço. “Foram nove meses somente para aprovação, tivemos que ter o crivo de várias comissões do Hospital São Paulo, como a de Ética e de Higiene. Seguimos à risca as regras para continuar esse trabalho”, conta Lucy.
Hoje o projeto Joe, o Amicão e seus Cãopanheiros faz parte da Terapia Assistida por Animais (TAA) do Grupo de Trabalho de Humanização do Hospital São Paulo, e também vai a outras unidades, como o Grupo de Apoio ao Adolescente e a Criança com Câncer (GRAAC) e outros hospitais.
É certo que cães são vulneráveis a todas as doenças, como os humanos, mas eles só transmitem a raiva. Uma das regras para o projeto funcionar dentro do hospital é que a vacinação dos animais esteja em dia, outra é que tome banho semanalmente, mesmo que a recomendação veterinária sugira banhos quinzenais. “A saliva do cão tem muito menos bactérias que a do ser humano, isso é comprovado cientificamente”, garante Lucy, que junto com Ângela, arcam com todas as despesas de locomoção e cuidados com os animais. “É um trabalho totalmente voluntário, de coração e mantemos nosso compromisso”, explica Lucy.
Qualquer cachorro pode fazer parte de um programa assim, mas há algumas regras a serem seguidas. Mais importante que a raça é a índole do cão, sua capacidade e sensibilidade em aprender a trabalhar com os pacientes. Ele precisa ser adestrado ou treinado para obedecer comandos básicos e ter um temperamento que não seja abalado por estímulos mais grosseiros ou agressivos. Se for cadela, precisa ser castrada por uma questão de higiene e é recomendável que os cães estejam acompanhados de seus donos, pois assim se sentem mais seguros e tranquilos.
Benefícios do convívio com animais
Acha que são poucos? Selecionamos alguns para você!
– A passagem da cachorrada pelo hospital transforma positivamente o ambiente.
– A surpresa de encontrar um cão no hospital provoca diferentes emoções nas pessoas, crianças ou adultos. Algumas crianças com doenças crônicas, que permanecem internadas por um longo período, tiveram contato com um cachorro pela primeira vez por meio deste projeto.
– Crianças e pacientes da Psiquiatria aguardam ansiosamente às quartas-feiras à tarde para encontrar o Joe.
– A presença do cachorro em hospitais diminui a pressão sanguínea, controla a ansiedade de cardíacos e ajuda a melhorar as funções do coração e do pulmão em pacientes.
– Um cão na sala de espera de consultório reduz estresse das crianças.
– A fisioterapia é mais eficaz quando o profissional tem como assistente um cachorro.
– Idosos que possuem um animal de estimação em casa necessitam de consultas médicas com menos freqüência.
– Taxas de colesterol, triglicérides e pressão arterial são baixas em pessoas que têm bicho em casa.
– Crianças que convivem com animais conseguem lidar melhor com situações difíceis na família, como doenças ou perdas, e têm mais autoestima.
– Em adultos saudáveis, os bichos propiciam a diminuição do estresse diário e da solidão.