A ciência ainda não sabe explicar como funciona o sono, mas pode responder com alguma segurança que quando dormimos recuperamos a energia gasta durante o tempo que passamos acordados. Ocorre uma importante fase da homeostase, como é chamado o equilíbrio físico e químico do nosso organismo, ativamos os neurotransmissores envolvidos no ciclo vigília-sono, sedimentamos a memória e produzimos alguns hormônios, como o do crescimento, que também tem a função de reparar as células. E sonhamos!
“Os sonhos são uma experiência humana universal, que pode ser descrita como um estado de consciência caracterizado por fatos sensoriais, cognitivos e emocionais durante o sono. O sonhador tem controle reduzido sobre o conteúdo, imagens visuais e ativação da memória”, explica George Teixeira, Neurologista infantil do Hospital Luzia de Pinho Mello, de Mogi das Cruzes.
O sono tem dois estágios: o Não REM (Rapid Eyes Movement ou Movimento Rápido dos Olhos), dividido em quatro fases, e o REM, assim denominado pelos movimentos oculares rápidos e atonia muscular. Esta é a fase em que ocorrem os sonhos.
Mas, afinal, por que sonhamos? Esse é um dos maiores enigmas da consciência. A neurologia e a psicologia estudam o fenômeno por diferentes ângulos, mas não há ainda uma resposta científica definitiva para a questão. Além da função biológica, é provável que os sonhos sejam a principal chave para o autoconhecimento humano.
Há exatos 115 anos o pai da psicanálise Sigmund Freud publicou A Interpretação dos Sonhos (1900), onde descrevia o sonhar como uma linguagem simbólica por onde nosso inconsciente se manifesta.
Sob a ótica neurológica, quando sonhamos outras funções cerebrais são despertadas, como a manutenção da memória, seja arquivando lembranças de longa duração ou descartando informações que não usamos mais, consolidando também o aprendizado.
“Quanto mais se estuda a função do sonho, mais se chega à conclusão de que é importante sonhar. Quase todo mundo sonha, mas só lembramo-nos do que sonhamos quando acordamos imediatamente após o sonho”, diz Teixeira.
O neurologista aponta algumas explicações sobre por que sonhamos:
– Para representar anseios e desejos inconscientes.
– Para interpretar os sinais aleatórios do cérebro e do corpo durante o sono.
– Para consolidar e processar informações recolhidas durante o dia.
– O sonho trabalha como uma forma de psicoterapia.
Estudos permitem especulações sobre algumas das funções do sonhar. Com base em pesquisas científicas, pode-se dizer que o sonho:
– É um subsistema da rede padrão de vigília (o tempo que ficamos acordados) que é ativo durante a divagação mental – o ato de “sonhar acordado”. Assim, sonhar pode ser visto como uma simulação das experiências da vida real.
– Participa no desenvolvimento de capacidades de aprendizado.
– É psicanalítico. Sonhos são reflexos altamente significativos do funcionamento mental inconsciente.
– Promove o equilíbrio psicológico, pois cria um espaço onde ideias impressionantes, contraditórias ou altamente complexas podem ser reunidas, o que seria inquietante quando acordado.
Pesadelos
Estudos indicam que sonhos e pesadelos podem ajudar na resolução de problemas do dia a dia. Isso porque coisas absurdas acontecem no sonho, ajudando nosso inconsciente a pensar além de nossa zona de conforto, “fora da caixinha”, na linguagem popular, o que ajuda na criatividade.
“Pesadelos são sonhos ruins”, define George Teixeira. “E o sonho, de forma geral, é um estado único de consciência que incorpora três dimensões temporais: experiência do presente, o processamento do passado e preparação para o futuro. O pesadelo também serve para isso, elaborar situações para coisas que não aconteceram, como um ensaio”, finaliza o neurologista.