As clínicas de reprodução nos Estados Unidos enviam os dados dos seus ciclos para um órgão coordenador que, a cada ano, oferece um relatório geral mostrando alguns aspectos dos procedimentos realizados. Embora nem todas as clínicas enviem os dados, o relatório de 2010 contou com dados de mais de 400 clínicas americanas.
Foram realizados 147.260 ciclos, com resultados resumidos na tabela abaixo:
Número de ciclos | 147.260 | |
Número de transferências de embrião | 125396 | Ciclos sem transferência: 21864(15%) |
Número de gravidezes | 57773 | 39%/ciclo ou 46% por transferência |
Número de nascimentos | 47090 | Abortamento: 18% |
Parto de um bebê | 33128 | 70% dos nascimentos |
Parto de múltiplos | 13962 | 30% dos nascimentos |
A primeira observação importante: em 15% dos ciclos, não foi possível a transferência de embrião. Isto ocorre porque:
a) Não houve desenvolvimento de folículos ovarianos;
b) Mesmo havendo folículos, não houve óvulo viável para fertilização;
c) Mesmo havendo óvulos viáveis, não houve fertilização;
d) Mesmo havendo fertilização, o embrião formado não foi adequado para a transferência.
Portanto, sempre que se inicia um ciclo para fertilização in vitro, todos os riscos descritos são reais. Assim, se uma etapa foi adequada, isso não é garantia que a outra será também.
Dentre as transferências havidas, apenas 57773 culminaram em gravidez . Vemos que, de todos os procedimentos iniciados, apenas 39% culminaram com gravidez. No entanto, se formos contar apenas os ciclos em que houve transferência do embrião para o útero, a taxa de gravidez será de 46%. Portanto, quando se fala em taxa de gravidez, é preciso explicar em relação a que essa taxa se refere, pois ela pode ser maior ou menor conforme essa referência.
Ainda mais: mesmo havendo gravidez, pode ocorrer perda gestacional. No caso, quase 20% das gravidezes foram perdidas (mais de dez mil). Outra lição: engravidar não significa que haverá nascimento.
E, finalmente, a tabela mostra uma taxa de multiparidade de 30%, sobre a qual discorreremos na próxima semana. Por hora, é compreender que o procedimento não é isento de riscos, e que o casal, uma vez necessitando desse procedimento, deve estar consciente disso.
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo