Com a rotina agitada do dia a dia, lembrar de todas as coisas importantes não é uma tarefa fácil para ninguém. Esquecer uma reunião ou de tomar um remédio, por exemplo, é perfeitamente compreensível. O problema realmente fica insustentável quando episódios de esquecimento são mais comuns e freqüentes. Se estiverem aliados à desorientação, confusão mental, dificuldade de comunicação, entre outros sintomas, a situação torna-se preocupante.
Por quê? A neurologista Melissa Castello Branco Helbel, do Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo Euryclides de Jesus Zerbini, explica. “Várias podem ser as causas de um quadro como esse, mas quando esses sintomas tornam-se freqüentes e intensos, identificamos sinais de demência, que comumente é provocada pela Doença de Alzheimer”, afirma.
“Cerca de 75% dos portadores de demência têm Alzheimer, são cerca de 37 milhões de pessoas afetadas por ano no mundo”, diz Melissa, que explica que o número de afetados pela doença dobra a cada cinco anos de uma forma exponencial: na faixa de 65 a 69 anos a doença avança a uma taxa entre 1,5% e 2,5% e chega a 40% entre pessoas de 90 a 94 anos. A idade representa o principal fator de risco da doença.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a porcentagem de pessoas com mais de 65 anos que sofre deste mal, que era de 6,8% em 2000, será de 16,2% em 2050. Isso equivale dizer que o número de pessoas no mundo afetadas por essa demência passará de 24 milhões em 2005 para cerca de 80 milhões em 2040. “O Alzheimer tem proporções de uma epidemia mundial e é uma das principais doenças em gastos com saúde pública”, afirma a neurologista.
Sintomas
A primeira descrição dessa patologia foi descrita em 1901 por Alois Alzheimer, que relatou o caso clínico de sua paciente Augustine D., de 51 anos, com distúrbios cognitivos, desorientação, distúrbios da fala e do comportamento.
A Doença de Alzheimer é caracterizada por uma perda de memória progressiva com pelo menos um ano de duração. A principal queixa do paciente é perda da memória para fatos, histórias, recados, nomes recentes do dia a dia, permanecendo preservada a memória para fatos antigos. “Embora não lembre o que comeu em sua última refeição, o paciente lembra claramente de episódios de sua infância”, explica Melissa.
Em cada indivíduo afetado pela doença os sintomas e mudanças de comportamentos provocados pelo Alzheimer são diferentes, mesmo em suas três fases.
Na fase leve, que dura de dois a quatro anos, o indivíduo costuma estar alerta e é sociável, mas o aumento da frequência de episódios de esquecimento começa a interferir nas suas atividades da vida diária. Os lapsos de memória começam pelos fatos recentes, e vão progredindo gradativamente aos aprendizados mais remotos.
O diagnóstico é difícil de ser feito nessa fase, pois pacientes e familiares acreditam que o esquecimento experimentado então é próprio da idade. Quanto mais escolaridade o indivíduo tem, mais difícil fica para detectar o Alzheimer.
A capacidade de escolha e julgamento permanece preservada nessa situação, motivo para que qualquer decisão sobre documentos ou o futuro sejam tomados pelo paciente nesse momento.
É na fase moderada, com duração de três a cinco anos, que os sintomas começam a se aprofundar: problemas de reconhecimento de pessoas; de compreensão do que é ouvido; de expressar o que é dito; de nomear objetos e de executar tarefas motoras atrapalham muito nas atividades da vida diária. Com isso, explica a Dra. Melissa, há nessa fase desorientação espaço-temporal, sendo muito comuns queixas de roubo e perseguição por parte do paciente.
Para a preservação da segurança e para a realização das tarefas do dia a dia é necessário que o indivíduo com a Doença de Alzheimer moderada seja acompanhado por um cuidador.
Na fase grave, que dura de um a três anos, os pacientes são totalmente dependentes de seus cuidadores. Já não conseguem mais realizar as tarefas comuns, como higiene pessoal e alimentação.
A confusão mental constante e a memória em um estado já bem delicado dificultam enormemente a comunicação, requerendo atenção e cuidados 24 horas por dia.
Diagnóstico
O diagnóstico de Alzheimer ainda hoje é difícil de ser realizado, pois não existe nenhum exame que possa identificar precisamente da doença.
“Primeiro deve ser realizada uma consulta médica, na tentativa de caracterizar a queixas de esquecimento e avaliar sua relevância. Posteriormente são realizados exames laboratoriais, de imagem, como tomografia ou ressonância magnética e testes neuropsicológicos para avaliação da memória”, explica a neurologista Melissa.
Tratamento e Prevenção
Mesmo com todos os esforços ao redor do mundo, a Doença de Alzheimer ainda não tem cura. Existem algumas medicações que tentam retardar a progressão da doença (como inibidores da acetilcolinesterase que incluem Donepezil, Galantamina e Rivastigmina e os antagonistas do receptor de NMDA, que é a Memantina). Outras medicações são utilizadas para tratamento dos sintomas comportamentais dos pacientes.
A prevenção é muito importante no combate à Doença de Alzheimer, e deve mesmo ser iniciada bem cedo. Atividades físicas regulares, tarefas que exercitem o cérebro, como estudo, o aprendizado de coisas novas, controle da pressão alta e diabetes, além de hábitos alimentares saudáveis são as regras de ouro da prevenção dessa doença
Para saber mais sobre essa doença, assista ao vídeo com o dr. Paulo Bertolucci, neurologista e Coordenador do Núcleo de Envelhecimento Cerebral (Nudec-Unifesp).