Em muitas ocasiões realiza-se, durante o procedimento de fertilização in vitro, a injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI – intracitopasmatic sperm injection). Em particular, o procedimento é obrigatório quando o diagnóstico da infertilidade aponta para o lado masculino: baixas concentração, motilidade ou morfologia dos espermatozóides. A justificativa para injetar o espermatozóide no oócito é a de aumentar a chance de fertilização, o que realmente acontece. Há também uma suspeita de que, talvez pelo processo de estimulação ovariana, a “casca do oócito” (chamada zona pelúcida) se torne mais espessa, dificultando a penetração natural do espermatozóide, o que também justificaria a realização de ICSI.
Ora, na gravidez natural, os espermatozóides depositados na vagina “caminham” pelo útero e tubas, até encontrarem o óvulo (oócito). Nessa “caminhada”, muitos são eliminados pelo organismo feminino, acreditando-se que apenas os mais “fortes” consigam chegar ao óvulo (oócito). Ai, vários espermatozóides se ligam à zona pelúcida e apenas um fertiliza o oócito. Portanto, parece haver, nessa “caminhada”, uma espécie de seleção “natural” dos espermatozóides. Quando se realiza ICSI, a seleção é feita pelo olho do observador, levando em conta a motilidade e a morfologia do espermatozóide. Daí a pergunta que os médicos se fazem: será que o olho do observador é tão bom quanto a “seleção natural” do espermatozóide?
Embora várias pesquisas tenham sido feitas, ainda não há uma resposta definitiva. Um trabalho da universidade de Adelaide (Austrália) muito consistente, publicado há dois anos no conceituado New England Journal of Medicine, estudou mais de trezentos mil recém nascidos, cerca de seis mil por meio de reprodução assistida. O trabalho mostrou que a chance de malformações nos bebês nascidos por reprodução assistida é maior do que a que ocorre nos nascidos por gravidez natural (8,3% x 5,8%). Porém, o estudo mostrou também uma ligação entre a taxa de malformações e a condição de infertilidade do casal. Quando se leva em conta esse fator, a chance de malformação do bebê se torna a mesma, comparando gravidez natural e assistida. Um outro trabalho, da Universidade de Lund (Suécia), estudou cerca de dezesseis mil nascidos por meio de fertilização in vitro, e mostrou que a taxa de malformações ocorridas podia ser atribuída mais às características dos pais do que ao procedimento utilizado. Mostrou também que a taxa de malformação era igual, quer se utilize ou não o ICSI.
Dessa forma, embora a questão ainda não tenha uma resposta definitiva, parece haver uma evidência de que o procedimento in vitro não colabora para o aumento da incidência de malformações. Seja lá qual for a resposta, sempre haverá algum risco, mesmo que pequeno, da concepção de um bebê que possa ter alguma malformação. E a pergunta real, que o casal deve responder, é: estamos dispostos a aceitar esse risco, em troca da imensa felicidade que é ter o nosso bebê?
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Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo