Uma grande e crescente preocupação dos casais, especialmente da mulher, é com a piora do potencial reprodutivo com a idade.
Isso porque, no momento atual, muitos têm preferido retardar a gravidez, em razão da busca, primeiramente, de estabilidade profissional e econômica.
Ora, conforme o tempo passa, o número de óvulos da mulher tende a reduzir. Os óvulos encontram-se, nos ovários, dentro de bolsas de líquido chamadas de folículos. A diminuição do número de óvulos tem relação com a perda de folículos, o que pode ser verificado por meio do exame de ultrassom. Na figura, o aspecto ultrassonográfico de um ovário com seus folículos (f).
A redução da quantidade de folículos se torna mais aguda após os 37 anos e, por isso, a taxa de gravidez da mulher também declina mais rapidamente a partir dessa idade. A quantidade de folículos que existe no ovário, a certa idade, é denominada de reserva ovariana, e seu conhecimento é muito importante para a realização de procedimentos assistidos (inseminação ou fertilização in vitro), porque parte do sucesso do procedimento está ligado à reserva ovariana da mulher.
De modo geral, quanto maior a idade da mulher menor a reserva ovariana. Além disso, a qualidade dos óvulos também diminui com a idade. Daí a maior chance de surgir um filho com doenças genéticas em mães mais velhas.
Além do “efeito idade”, há outras formas pelas quais o médico pode avaliar a reserva ovariana. Entre elas:
1 – dosagem de FSH (hormônio folículo estimulante) no sangue: quanto menor o número de folículos ovarianos, maior o valor do FSH no sangue;
2 – dosagem de hormônio antimülleriano no sangue: esse hormônio é fabricado pelos folículos. Assim, quanto menor o número de folículos, menor o valor desse hormônio;
3 – contagem de folículos ovarianos quando a mulher está perto da menstruação: esse exame é realizado por meio do ultrassom, que permite visualização e contagem dos folículos. Evidentemente, quanto maior o número, maior a reserva ovariana;
4 – dosagem de inibina B no sangue: semelhantemente ao hormônio antimülleriano, quanto menor, menor a reserva ovariana.
Mesmo que a reserva ovariana seja baixa, isso não implica na chance nula de gravidez. De fato, a presença de poucos óvulos não é um impedimento absoluto para a gravidez.
Assim, embora a baixa reserva ovariana seja um dificultante (às vezes até de grande magnitude) no momento de engravidar, lembremos que um único óvulo de qualidade, capaz de gerar um bom embrião, pode trazer a alegria da gravidez ao casal.
Quando o paciente pergunta “até quando meu ovário vai funcionar?” significa “até que idade vou engravidar com os meus óvulos?”. No momento, uma resposta direta e geral não é possível. Mas a pesquisa judiciosa de cada casal, a verificação o mais precisa possível das condições ovarianas permitirá ao médico, mesmo em pacientes de baixa reserva ovariana, guiar o casal para o caminho mais seguro para a obtenção da gravidez.
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo