Em outros tempos, era natural para a mulher experimentar diversas gravidezes, posto que não existia nenhum procedimento que pudesse evitá-las. Assim, formavam-se famílias com vários filhos, muitos dos quais morriam ao nascer. Os costumes eram estes: as experiências sexuais da mulher eram apenas com o marido, e isso estava ligado à proliferação da família por meio de filhos.
Apesar disso, sempre existiram, mesmo em épocas mais remotas, e por vários motivos, tentativas de separar a relação sexual da reprodução. Sigmund Freud chegou a afirmar que teria sido uma grande liberação para os humanos se houvesse essa separação.
Durante a história da humanidade, muitas tentativas foram feitas nesse sentido. Algumas, citadas a seguir, verdadeiramente hilariantes. O que funciona intoxica e o restante não funciona.
1. Egito Antigo: uso de goma arábica dentro do canal vaginal (é, realmente, nociva ao espermatozoide). Utilizava-se também uma mistura de estrume de crocodilo e mel, a ser colocada na vagina.
2. Grécia: Hipócrates preconizava a prevenção da gravidez com sementes de cenoura selvagem ingeridas por algum tempo; Aristóteles prescrevia a contracepção com poejo. Dioscórides receitava a ingestão de extrato de madressilva por cerca de um mês para produzir infertilidade masculina. Sorano recomendava que, após a relação sexual, as mulheres se postassem de cócoras e espirrassem.
3. China: antigamente, o mercúrio (veneno poderoso) era utilizado como bebida quente para que a mulher não engravidasse ou abortasse. Em 1970,(1970), foi feita pesquisa com óleo de algodão administrado em homens, com sucesso absoluto em termos de esterilização, tanto que alguns deles jamais voltaram a ser férteis. Isso se deve a um composto presente no óleo, o gossipol.
4. Ocidente: no século XVII, foi “inventado” o coito interrompido, após a descoberta de que o sêmen teria algum papel na gravidez. No decênio de 1950, foi utilizada a lavagem vaginal com coca-cola (isso mesmo!) logo após a relação para evitar a gravidez.
5. Europa: como os filhos são considerados uma bênção de Deus, talvez um pedido e algumas orações poderiam parar a procriação. Assim, no século XIX, foi comum o uso de recipientes que continham sete pequenos bonecos, que eram oferecidos na igreja, com orações similares a “Senhor, por favor, evite suas bênçãos após o sétimo!”.
Alguns esforços foram recompensados. Os preservativos masculinos (camisinhas) foram presumivelmente utilizados em Roma, na Itália, fabricados com bexigas de animais. Em 1564, o italiano Falópio descreveu envoltórios penianos de linho. No século XVIII, vísceras de animais eram utilizadas para esse fim (principalmente intestinos) e, na segunda metade do século XIX, surgiram as camisinhas de borracha vulcanizada, aperfeiçoadas e utilizadas até hoje.
Os diafragmas femininos tiveram sua origem na Alemanha, em 1833 (por Friedrich Wilde). Foram aperfeiçoados em 1870 por outro alemão (Mensinga) e mais ainda até os dias atuais. Em 1992, foi lançada a “camisinha feminina”, estrutura de látex que envolve toda a vagina e impede o contato direto com os espermatozoides. Seu uso tem sido descontinuado por causa de desconforto.
Os dispositivos intrauterinos (DIU) foram introduzidos por Hipócrates há mais de dois milênios. Conta-se que eram inseridos objetos no útero por meio de um tubo de chumbo. O primeiro dispositivo de maior aceitação foi a chamada alça de Lippes, utilizada a partir de 1962. Atualmente, são utilizados dispositivos de cobre, especialmente em forma de T.
Do ponto de vista técnico, a pílula começou a ser pesquisada em 1921, quando Haberlandt induziu infertilidade temporária em coelhas por meio de enxertos de ovários de outras coelhas. O restante da história dependeu da revolução feminista, sobre a qual já comentamos no artigo anterior.
Como evolução da pílula, surgiu o implante contendo hormônio que impede a ovulação (chamado levonorgestrel). O implante é inserido no tecido subcutâneo e dura cinco anos. Paralelamente, foi desenvolvido um dispositivo intrauterino que libera o mesmo levonorgestrel por cinco anos em doses mais baixas.
Os métodos irreversíveis para produzir infertilidade datam de 1823. Nessa época, foi feita em Londres a primeira cirurgia de laqueadura tubária (fechamento cirúrgico de trompas ou tubas, com o que a gravidez é impossível). A vasectomia (fechamento cirúrgico dos canais deferentes do homem, o que impede a saída dos espermatozoides) foi realizada em animais nesse mesmo ano, sendo depois transferida para os homens.
A evolução é constante. No momento, o que se procura é a redução dos efeitos colaterais dos métodos existentes e, ao mesmo tempo, um aumento de sua efetividade.
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo