Muitas vezes, no curso de nossas vidas, encontramos situações que nos colocam em expectativa e ansiedade. A chegada das férias servirá para realizar os planos de uma viagem de há muito tempo almejada; amanhã, pela manhã, chegará o carro novo; a empresa vai telefonar sobre aquele emprego tão desejado; o resultado das provas do vestibular será publicado em 10 dias; e assim por diante. Não é diferente no caso da fertilização in vitro, e os casais se mostram preocupados com a influência desses fatores emocionais no sucesso da fertilização in vitro.
O procedimento in vitro é carregado de situações de incerteza, capazes de gerar ansiedade:
1. Administra-se a medicação (injetável, e, portanto, produtora de um certo grau de stress) com a esperança de que os folículos ovarianos se desenvolvam, o que pode não ocorrer;
2. Se crescerem folículos, não é certo que todos terão óvulos, já que alguns deles ou não os tem, de início, ou os perdem durante o crescimento;
3. Se houver óvulos, também não é certo que todos sejam maduros e aptos à fertilização;
4. Ainda que sejam maduros, podem não responder à entrada do espermatozoide, não ocorrendo a fertilização;
5. Uma vez que houve fertilização, pode não ocorrer formação de embrião adequado para transferência uterina; e
6. Se transferidos, os embriões podem não implantar no endométrio e gerar a gravidez.
Portanto, o procedimento não é linear e, embora haja uma sequência de etapas parcialmente dependentes umas das outras, não é verdade que se uma etapa aconteceu a próxima também irá acontecer. E essa descontinuidade do processo é, sem dúvida, uma causa de ansiedade. E a pergunta persiste: essa ansiedade influi no resultado do procedimento?
Afortunadamente, não. Um estudo holandês de 2009 mostrou, nas mulheres que passaram por procedimento de fertilização in vitro, os níveis de ansiedade das mulheres que engravidaram e das que não engravidaram foram semelhantes. Nem a ansiedade produzida pelo tratamento, nem a ansiedade que já existia antes do tratamento parecem ter influência na taxa de gravidez.
Arriscamos dizer que a ansiedade vem com a vontade: se temos vontade de algo, parece que não há como fugir de alguma ansiedade. Provavelmente, a ansiedade é uma espécie de subproduto da vontade: ao acender a lâmpada queremos luz, mas não há como evitar algum calor que venha dela. Nesse sentido, lidar com a ansiedade é domesticá-la: saber o que ela é, de onde ela vem, e auxiliá-la a ficar no seu lugar, usando sua energia para impulsionar-nos na direção que queremos.
Para mais informações sobre reprodução humana, consulte a página:
http://www.hospitalsaopaulo.org.br/reproducaohumana
55392814 – 55395526 – 55392084 – 55392581
Dr Jorge Haddad Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo