Quando, na fertilização in vitro, se transfere mais de um embrião para o útero da paciente, existe risco de nascimento de mais de um bebê. Mesmo que, por vezes, isto possa trazer alegria para o casal, não é desejável do ponto de vista médico, dadas as complicações que podem ocorrer.
A probabilidade de prematuridade (nascimento antes das 37 semanas de gravidez) aumenta, chegando a 50% das gravidezes, o que pode cursar com problemas neurológicos às vezes graves. O baixo peso também pode ocorrer, embora seja menos grave que a prematuridade. Da mesma forma, as chances da mãe apresentar pressão alta durante a gravidez são até cinco vezes maiores que nas gravidezes de um bebê único. A eclampsia, complicação grave que se caracteriza por pressão alta, inchaço no corpo, dor de cabeça, vômitos, mal funcionamento dos rins e convulsões, são duas a três vezes mais frequentes na gestações múltiplas do que nas simples. Outros problemas que a gravidez múltipla pode trazer são:
1. Síndrome da transfusão feto-fetal, em que o sangue de um dos bebês passa para o outro, por meio de ligações entre as artérias e veias de ambos, o que pode resultar na morte de um dos bebês (“doador”);
2. Descolamento da placenta, em que ela se desprende da parede do útero, prejudicando a nutrição dos bebês e podendo levar a abortamento.
Por todas essas razões, dentre outras, o ideal é transferir o número de embriões que resulte numa maior taxa de gravidez associada a menor taxa de multiparidade. Atenta a esse fato, a legislação brasileira determina que o número máximo de embriões a ser transferido depende da idade da paciente, da seguinte forma:
Idade | Número máximo de embriões |
Até 35 anos | 2 |
De 36 a 39 anos | 3 |
De 40 a 50 anos | 4 |
Outra estratégia para reduzir a chance de multiparidade é a transferência de um único embrião. Uma estatística feita no Japão foi publicada em janeiro deste ano, analisando mais de duzentos e cinquenta mil ciclos de fertilização in vitro realizados entre 2008 e 2010, em que houve transferência de um único embrião por ciclo. A taxa média de gravidez foi próxima de 30%, chegando a quase 40% quando se transferiu um único blastocisto previamente criopreservado.
A preocupação com a multiparidade também tem se tornado um problema de saúde pública. Nos EUA, por exemplo, o custo do parto de uma criança é estimado em nove mil dólares; de gêmeos, em vinte mil dólares e, de trigêmeos e mais, cerca de cento e cinquenta mil dólares. Isso levando em conta eventuais (e, por vezes, necessários) cuidados neonatais, que tendem a ser mais custosos quando existe multiparidade, especialmente em relação ao baixo peso e prematuridade, que podem exigir internação em centros de terapia intensiva especializada.
Ao que parece, o sonho da grande maioria dos casais que passam pelo procedimento de fertilização in vitro é a gravidez gemelar (idealmente, um menino e uma menina), o que aparenta poupar tempo e dinheiro. Apesar desse desejo, justo até, é preferível não correr os riscos que são evitáveis, a ter que enfrentar posteriormente uma situação em que a alegria inicial seja substituída pela profunda tristeza da perda ou da doença.
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo