Mesmo a mulher que já tem fertilidade comprovada pode ter falta de ovulação em algum ciclo menstrual, sem que isso signifique alguma doença que necessite tratamento. No entanto, existem condições em que a ausência de ovulação é a regra e, nesse caso, há necessidade de tratamento específico.
Uma das doenças que cursa com anovulação é a chamada síndrome dos ovários policísticos (hoje mais adequadamente rotulada como síndrome da anovulação crônica) em que a paciente tem sangramento uterino irregular, em geral a cada 2 ou 3 meses, e o exame ultrassonográfico mostra a presença de inúmeros folículos ovarianos (bolsas de líquido que contém, cada uma, um óvulo) situados preferentemente na periferia dos ovário, como mostra a figura abaixo.
Algumas vezes, essa síndrome é acompanhada de obesidade, aumento de pelos e dificuldade do corpo em assimilar os hidratos de carbono (presentes em doces e alimentos farináceos: bolos, tortas, empadas, etc..), por insuficiência da ação da insulina. Mais raramente, queda de cabelos. Tudo isto é atribuído a um aumento da produção de hormônios masculinos (chamados andrógenos) pela mulher. Os andrógenos são produzidos pelos ovários, e também pelas glândulas suprarrenais.
O tratamento inclui utilização de medicamentos que inibem a ação dos andrógenos, acompanhado ou não de elementos que melhoram a ação da insulina. Para obter a ovulação, é comum a utilização de medicamentos que favorecem a ovulação, um dos mais utilizados sendo o citrato de clomifeno (Serophene™, Clomid™, Indux™). Trata-se de medicamento de uso oral, em geral um comprimido por dia por cinco dias, a ovulação ocorrendo aproximadamente 7 dias após a tomada do último comprimido. Embora seja medicamento seguro e com muito poucos efeitos colaterais, pode reduzir ou impedir a secreção do muco cervical (clara de ovo que sai pela vagina durante a ovulação), com o que a passagem do espermatozoide fica prejudicada. Também pode produzir alterações uterinas que dificultam a implantação do embrião, e, finalmente, pode induzir formação de cistos de ovário. Assim, mesmo sendo um medicamento seguro e de largo uso, é desejável a supervisão médica durante o tratamento.
Quando não se obtém ovulação com o clomifeno, são utilizados hormônios na forma injetável. Neste caso, há uma chance maior de desenvolvimento de vários folículos, ocorrendo exposição de mais de um óvulo durante a ovulação. Com isso, o risco de multiparidade (gravidez de mais de um feto) aumenta muito. Além disso, existe também um efeito colateral temível dessas medicações, a síndrome da hiperestimulação ovariana, capaz de produzir danos irreversíveis à saúde. Evidentemente, o acompanhamento médico é absolutamente necessário na administração destes medicamentos.
A anovulação crônica é apenas uma das causas de falha na ovulação. Nas próximas edições, veremos outras causas e seu tratamento.
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Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo