Os casais tem, primeiramente, preferido criar condições econômicas adequadas, para depois pensarem em ter filhos. De fato, nos dias de hoje, a responsabilidade pela criação dos filhos exige um suporte financeiro mais extenso, posto que as necessidades educacionais são cada vez maiores, tanto em eficiência, quanto em custo. Por um lado, essa atitude é elogiável, pois permite a formação de indivíduos com qualidade, capazes de desempenhar papéis relevantes socialmente. No entanto, por outro lado, a protelação da gravidez atinge direta e negativamente o potencial reprodutivo da mulher. Como mostra claramente o gráfico (retirado da revista médica Fertility and Sterility de março de 2014), a taxa de gravidez diminui com a idade: entre 35 e 37 anos já se nota um decréscimo do potencial reprodutivo da mulher, e, a partir dos 37 anos, a queda é mais acentuada.
Assim, a pergunta que produz maior tensão na mulher (e também no médico) é “quanto tempo mais eu tenho”. A mulher busca uma resposta pelo menos aproximada, capaz de pautar o quanto pode esperar para que, sem grande perda, possa ainda engravidar. Dentre outros fatores, a reserva ovariana (número de folículos contando óvulos, que ainda restam nos ovários) é o que se torna limitante com a idade: o número de folículos e sua qualidade diminuem com o tempo. Os parâmetros médicos capazes de avaliar essa reserva ovariana são:
1.Valor da concentração de hormônio folículo estimulante (FSH) no sangue: os folículos dos ovários produzem o estradiol (hormônio feminino) e a inibina que, em conjunto, fazem reduzir o valor do FSH no sangue. Se os folículos diminuem ou sua qualidade piora, a produção dessas duas substâncias se reduz, e o FSH aumenta, o que indica uma insuficiência ovariana;
2.Valor da concentração do hormônio anti-mülleriano (HAM): esse hormônio é produzido pelos folículos, de modo que quanto mais folículos existem nos ovários, maior a concentração de HAM. Se houver redução do número ou da qualidade dos folículos, então haverá redução do HAM, mostrando reserva ovariana baixa;
3. Contagem dos folículos: próximo da menstruação, o exame dos ovários por meio do ultrassom permite contar o número de folículos presentes nos ovários e, quanto maior esse número, maior a reserva ovariana.
Esses três parâmetros são capazes de mostrar a reserva ovariana num dado momento da vida da mulher, mas não são suficientes para predizer o tempo de “duração saudável dos ovários”. Isso porque a velocidade de perda dos folículos varia muito em cada caso, assim como a sua qualidade e a dos óvulos. Dessa forma, a recomendação é a de que, em termos gerais, a mulher procure a gravidez até os 35 anos de vida, no máximo (já com alguma perda maior) até os 37 anos. Embora se considere que o casal seja infértil após um ano de tentativas de engravidar, é desejável iniciar mais rapidamente a investigação e tratamento nas mulheres com 35 anos e mais, pelos riscos da redução mais rápida da reserva ovariana.
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo