A pergunta, feita pela maioria das pacientes, é: “Doutor, por quanto tempo devo manter repouso após a transferência dos embriões?”
O médico pesquisador, antes, pergunta a si próprio: “Será necessário o repouso após a transferência dos embriões?”
Isto porque, antes de se saber da quantidade, é necessário conhecer a necessidade. Será que o repouso após a transferência colabora para aumentar a taxa de gravidez?
Desde o início do uso da fertilização in vitro, essa dúvida existe. E, no decorrer dos anos, muitos trabalhos cie
ntíficos foram publicados sobre esse tema.
1997: pesquisadores da Universidade de Nápoles (Itália) compararam as taxas de gravidez de 100 casais que repousaram 20 minutos após a transferência com outros 100 que tiveram com 24 horas de repouso. As taxas de gravidez, de abortamentos e de multiparidade foram iguais nos dois grupos.
2004: na Universidade de Tel Aviv (Israel), foi feito um estudo com cerca de 400 casais em que foram transferidos embriões. Algumas mulheres fizeram repouso zero (saíram andando imediatamente após a transferência) e outras ficaram de repouso por 24 horas. As taxas de gravidez foram as mesmas.
2007: professores de universidades da Califórnia (Estados Unidos) se reuniram para tentar responder a essa pergunta. Compararam casais que tiveram 30 minutos de repouso após a transferência de embriões com casais sem repouso, e as taxas de gravidez foram iguais.
2013: o Instituto Valenciano de Infertilidade (Espanha) publicou um trabalho com 240 pacientes que tiveram transferência de embriões. Alguns não tiveram repouso nenhum e outros tiveram 10 minutos de repouso após transferência. Curiosamente, a taxa de gravidez foi maior nos que não fizeram repouso.
2014: outra revisão, realizado pela Universidade John Hopkins (Estados Unidos), mostrou que, na maioria dos centros de fertilização in vitro, a orientação é para nenhum repouso após a transferência (42% deles; outros 32% utilizam repouso sempre menor que trinta minutos).
Assim, ao que parece, não há necessidade de repouso após a transferência de embriões. No entanto, a ciência é subalterna da vida.
Nosso casal tem peculiaridades únicas, que podem orientar para o repouso após transferência, mesmo que a técnica diga o contrário. Ainda nesta ocasião, caberá à sensibilidade do médico assistente, associada à necessidade do casal, a melhor decisão sobre o assunto para cada casal em particular.
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo