A fertilização in vitro é um processo no qual o paciente, além de dispender tempo e dinheiro, gera desgaste emocional, por produzir expectativas por vezes não confirmadas. Dentre todas as etapas da fertilização in vitro, a menos conhecida e, portanto, aquela em que o médico tem menor poder de interferência, é a fase de implantação. Depois de formado o embrião, ele será transferido para dentro do útero da paciente e, após um processo apenas parcialmente conhecido, penetrará no endométrio (camada que reveste a cavidade uterina). É nessa etapa que, geralmente, a eficiência do processo é comprometida.
Várias tentativas, algumas corretas e outras nem tanto, vêm sendo feitas para superar esse problema e melhorar o potencial de implantação do embrião. Há um consenso de que o potencial de implantação aumenta com o uso do hormônio progesterona, em geral administrado pela via vaginal. Outros hormônios vêm sendo utilizados de modo experimental, raramente oferecendo resultados positivos (corticoides e estradiol, por exemplo).
Surgiu uma observação clínica, há cerca de dois anos atrás, de que, se fosse retirado um fragmento do endométrio (biopsia do endométrio) no ciclo menstrual anterior ao da realização da fertilização in vitro, então a taxa de gravidez seria maior. Essa observação carece de pesquisas mais orientadas que determinem sua validade e, em geral, não produz os resultados esperados. Portanto, embora derivada de observação clínica, não tem amparo científico que justifique sua aplicação. Principalmente porque uma lesão no endométrio pode produzir efeitos colaterais, como infecções (endometrite) e comprometer ainda mais o processo de implantação.
Há dez anos, um determinado laboratório lançou um novo meio de cultura para os embriões, alardeando grande sucesso em termos de taxa de gravidez. Muito sugestivamente, o produto foi chamado de “Embryo-Glue” (embrião-cola). Apesar de os primeiros trabalhos falarem em altas taxas de implantação, aos poucos o entusiasmo foi diminuindo, sendo o produto posteriormente recomendado apenas para pacientes em que houvesse repetidas falhas de implantação. Atualmente muito pouco utilizada, faltam ainda, apesar dos dez anos passados, pesquisas que demonstrem a real utilidade dessa “cola”.
Há ainda a suspeição de que algum mecanismo imunológico possa impedir ou, pelo menos, dificultar a implantação do embrião no endométrio. O embrião é, pelo menos parcialmente, um corpo estranho. Por isso, acredita-se que deva existir algum tipo de resposta imunológica do organismo materno a ele. No entanto, essa resposta ainda está por ser demonstrada: faz parte do mistério envolvendo a implantação, de modo que nenhum dos testes imunológicos utilizados até o momento tem potencial para descobrir eventuais “defeitos” que, “tratados”, possam melhorar as taxas de implantação.
Há ainda vários estudos sobre proteínas e outras estruturas do endométrio que determinariam maior ou menor chance de sucesso, sem, também, comprovação adequada.
Resumindo: o processo de implantação é um segredo muito bem guardado, ao qual a medicina, no presente momento, tem pouco acesso. Todas as tentativas citadas, e mais algumas outras, sejam frutos de tentativas honestas de resolver o problema, sejam fruto de “propaganda otimista”, apenas colaboram para não resolver o problema, e ainda trazem, de quebra, mais desconforto emocional para o casal: quanto maior altura maior o tombo. Nesse caso, quanto mais alta a expectativa, maior a frustração.
Para mais informações:
http://www.hospitalsaopaulo.org.br/reproducaohumana
55392814 – 55395526 – 55392084 – 55392581
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo