Embora existam tratamentos capazes de proporcionar a gravidez ao casal, intervenções com objetivo preventivo começam, agora, a ocupar um lugar de destaque na reprodução humana. A ideia de se poder prevenir (e, porque não, evitar) a infertilidade, sobreveio do acúmulo do conhecimento sobre os diferentes fatores que influem negativamente na reprodução. Nesta semana, discutiremos como alguns desses elementos, ligados ao nosso estilo de vida. Faremos um resumo palatável do excelente artigo produzido pela equipe do Prof. Ashok Agarval, da Universidade de Cleveland, publicado neste mês na revista Reproductive Biology and Endocrinology. Vamos iniciar mostrando os efeitos da idade e nutrição.
1- Idade dos parceiros:
Existe um decréscimo progressivo na qualidade dos espermatozoides produzidos pelo homem, a partir dos 35 anos. Mais ainda: a partir dos 40 anos, tem início uma degeneração do material genético do espermatozoide. Tomados em conjunto, esses elementos contribuem para queda na fertilização dos óvulos e diminuição da fertilidade do casal.
Na mulher, tanto a quantidade quanto a qualidade dos oócitos (óvulos) tende a se reduzir com a idade. O efeito é mais acentuado após os 35 anos, quando a taxa de alteração nos cromossomos começa a subir muito, o que, ao lado de prejudicar a fertilização e reduzir as chances de gravidez, aumenta a chance tanto de abortamento quanto de malformações do embrião (síndrome de Down, por exemplo). Quando a idade é o fator que impede a reprodução, podemos lançar mão de óvulos e/ou espermatozoides de doadores, para obter a gravidez. No entanto, sob o ponto de vista profilático, é preferível que a gravidez ocorra até os 35 anos da mulher.
2- Nutrição:
No caso do homem, dietas ricas em carboidratos (açucares e amiláceos, como massas, batata, feijão, etc..), ácido fólico (vitamina B), fibras, licopeno (presente no tomate, mamão, goiaba, melancia, e outros) e pobres em gorduras e proteínas tem correlação com maior qualidade dos espermatozoides. A química intracelular produz substâncias chamadas espécies oxigênio reativas, que servem para muitas reações químicas benéficas ao corpo. No entanto, se estão em excesso, são prejudiciais. No caso dos espermatozoides, reduzem a motilidade e fazem deteriorar seu material genético, prejudicando a reprodução: é o chamado estresse oxidativo, que pode ser minimizado pela ingestão de vitamina C, vitamina E e selênio.
A substituição de carboidratos por proteínas de origem animal, na dieta da mulher, se correlaciona com a chance de anovulação 32% mais alta. Esse efeito não ocorre se utilizada proteína de origem vegetal. A ingestão de gorduras trans, pela mulher, aumenta o risco de infertilidade de origem ovulatória. A menos que especificado na embalagem, produtos como margarinas, sorvetes cremosos, biscoitos, bolos, tortas, pães, salgadinhos, pipoca de microondas, bombons, e tudo mais que contenha gordura hidrogenada, são fontes de gordura trans. Vale lembrar que essas gorduras são, também, responsáveis pelo depósito de placas que produzem obstrução das artérias, causando infartos e derrames. A ingestão de multivitamínicos parece reduzir o risco de anovulação. À vista desses dados, foi “inventada” o que se poderia chamar de “dieta da fertilidade” da mulher, composta pela ingestão de gorduras não trans, multivitamínicos, proteínas vegetais (em vez de animais) e ferro.
A despeito dessas evidências, ressaltamos que apenas o médico assistente poderá orientar adequadamente o casal em relação a hábitos alimentares que poderão ser mais úteis.
Para mais informações:
http://www.hospitalsaopaulo.org.br/reproducaohumana
55392814 – 55395526 – 55392084 – 55392581
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo